Opinião

EDITORIAL | Para além do absurdo

EDITORIAL | Para além do absurdo
Crédito: Pexels

Em termos estatísticos, a cidade do Rio de Janeiro, embora seja a que mais frequente as manchetes policiais, não é a mais violenta do País, considerando dados como número de assassinatos e crimes de outra natureza. Trata-se de um dado que não parece ter muita importância, considerando, principalmente, os avanços, na cidade e no Estado do Rio, das facções criminosas e das milícias, hoje, tragicamente, mais que um poder paralelo, um poder real e efetivo em muitas comunidades. Com o agravante de que o território ocupado está em franca expansão, atingindo inclusive outros estados.

Não é possível admitir que tudo que este poder, ao qual é preciso pedir autorização até mesmo para uma visita papal, como aconteceu no já distante ano de 1981, com João Paulo II que incluiu no seu roteiro de visita ao País passagem pela favela do Vidigal. Quarenta anos e se alguma coisa mudou foi para pior, estando longe de ser  exagero afirmar que o Estado brasileiro já não alcança parte de seu território. Disso, aliás, acaba de nos dar conta o hoje presidiário e até a semana passada secretário de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, Raphael Montenegro. Investigado pela Polícia Federal, ele acabou preso – e demitido – depois que foram descobertas provas contundentes de contatos seus, negociações e acordos, com chefes de facções criminosas, justamente os mais graduados, hoje também hóspedes do Estado em prisões federais de máxima segurança. Dois outros subsecretários também foram acusados e presos.

A escala do absurdo, ou de imaginação muito fértil, parece ter rompido quando são conhecidos detalhes das negociações, nas quais, tudo indica, a troca de favores envolveu as duas partes. Evidentemente que não se pode imaginar, nessas circunstâncias e depois de lembrar que até recentemente o sistema de segurança pública do Rio de Janeiro tenha estado sob intervenção federal, que exista margem para ações efetivas de combate à criminalidade e consequente restauração de padrões mínimos de segurança pública. Sem lugar para dúvidas, estamos todos diante do absurdo dos absurdos e ao mesmo tempo de uma situação de risco que não há como descrever.

O que se passa no Rio de Janeiro é de suma gravidade, seja qual for o ângulo a partir do qual a situação seja examinada. O sistema prisional literalmente dominado pelas facções criminosas que igualmente ocupam grande parte das chamadas comunidades, impondo suas leis e seus interesses, sobretudo com relação ao tráfico de drogas, além de serviços até de TV a cabo e distribuição de GLP. Pior, como dito acima, é que este modelo sem controle e do mais alto risco se espalha. Tudo isso sem sinais efetivos de qualquer esforço estruturado para contê-lo, conforme os fatos mais recentes acabam de demonstrar.

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