EDITORIAL | Para começo de conversa

Como a escolha do novo presidente da República ficou para um segundo turno, o mesmo acontecendo com alguns governadores estaduais, prossegue o ritual das campanhas políticas, em que se encaixam os debates televisivos, invenção norte-americana mal copiada nessas bandas. Fundamentalmente trata-se de um exercício de jornalismo, bom jornalismo, em que as fontes, no caso candidatos, são convidados a se apresentar e a debater projetos e propostas. No entanto, e com o passar do tempo, a distância entre intenção e realidade foi aumentando, em prejuízo dos espectadores, aqueles que procuram nesses momentos base para sua decisão de voto.
Com restrições as mais diversas, ditadas pelas limitações de tempo e custos, além das questões legais, os debates se tornaram engessados, com pouco ou nada de natural e, mesmo, de jornalismo, difícil de ser praticado nestas condições. Daí resulta que mais uma vez falte espaço para apresentação e defesa de projetos, de ideias ou mesmo discussão verdadeira com grau necessário de espontaneidade que facilite seu entendimento, no contexto de um debate íntegro. O tal marketing político e todos os seus acessórios, com os quais quase tudo se transforma num produto bem embalado e atraente o suficiente para ser vendido e consumido, fazem o resto. Tudo isso e sem que seja preciso recordar, no último debate do primeiro turno, a presença de um convidado que lá esteve exclusivamente porque imposto pelas regras.
Evidentemente que o tempo é demasiadamente curto para que se faça qualquer alteração relevante, mas será de todo conveniente que a questão pelo menos comece a ser discutida. De outra forma, os debates, que se pretende sejam parte integrante de todo o processo de informação, escolha e decisão, serão cada vez mais apenas um show de baixo interesse e nenhuma utilidade, porque submetidos a um script muito pobre, além de distantes dos elementos cruciais do verdadeiro jornalismo. De momento, e agora num cara a cara que por si só reduz manobras e artifícios, como aqueles que retiram qualquer relação de nexo entre pergunta e resposta, espera-se que surja algum espaço para algo mais próximo de um verdadeiro debate.
Até aqui, e independentemente do resultado extraído das urnas, todo o processo de apresentação de candidatos e candidaturas deu lugar a uma sistemática troca de acusações e ofensas, transparecendo como objetivo único derrubar o adversário. Ninguém está vendendo sabão em pó, ninguém acredita estar comprando sabão em pó e temos todos, cidadãos, o direito de esperar e exigir mais, num contexto de elementar integridade. Algo que, sendo este o entendimento comum, será bastante fácil de ser feito, em proveito de valores que devem estar sempre em primeiro plano.
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