EDITORIAL | Passamos dos limites

A trágica contagem acaba de passar dos 250 mil mortos, número sem precedentes em toda a história do País. Tragédia diante da qual as reações ficam muito além do necessário e desejável.
Algumas contas, avalizadas pelos conhecimentos de especialistas, sugerem que pelo menos 40% das mortes poderiam ter sido evitadas, se tomados os devidos cuidados.
Mais agilidade, mais comprometimento da parte do setor público, no caso em especial no plano federal, combinada com mais disciplina da sociedade, seguindo os protocolos indicados, poderiam ter feito muita diferença.
Não acabou e mudança de comportamento ainda pode fazer enorme diferença, diante da possibilidade, que parece concreta, de uma escalada ainda maior da pandemia.
Cabe lembrar, a propósito, que os indicadores atuais são os piores até agora, resultado aparente das mutações do vírus combinada com a estranha letargia capaz de fazer com que cargas de preciosas vacinas tomem destino diferente ou que festas clandestinas prossigam fazendo parte de uma rotina tanto incompreensível quanto assustadora.
Tudo isso, evidentemente, com fortes reflexos na economia, travada pela própria pandemia, numa conta que se agrava pelos erros dos gestores públicos e à orbita da política, que continua parecendo fazer parte de um outro mundo.
Dessa realidade nos dá conta o que se passa presentemente no Congresso Nacional, que continua sem tempo, ou inspiração, para tratar dos grandes temas de interesse nacional, como as reformas que bem feitas poderiam dar rumos à economia, mas em velocidade recorde, e escandalosamente, são capazes de pôr de pé aquilo que, com muita propriedade, já está sendo chamado de PEC da impunidade.
A rigor, nada que surpreenda num Parlamento em que preso passa a noite na cadeia e assume suas funções durante o dia. O esperado, nada mais que o esperado, depois que a estrutura da Operação Lava Jato, com seus erros e acertos, foi virtualmente desmontada.
Ainda assim, cabe registrar, com perplexidade e indignação, independentemente da decisão de adiar a votação, que, em termos bem práticos e concretos, está em curso um processo de desmontagem da estrutura político-institucional do País, preparando o terreno sabe-se lá para que e a que preço.
A ser pago pelo conjunto da sociedade, que se mostra ao mesmo tempo indignada e passiva, como se estivesse diante do inevitável. Passamos dos limites, todos os pudores foram acintosamente postos de lado. E é preciso reagir, antes que tenhamos ingressado num estrada sem retorno, o que já não parece muito longe de acontecer.
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