Opinião

EDITORIAL | Passando do limite

EDITORIAL | Passando do limite
Crédito: REUTERS/Diego Vara

O presidente Jair Bolsonaro, insistindo em sua estratégia de confundir, prossegue tentando colocar em dúvida a integridade do sistema eleitoral brasileiro, em particular do mecanismo de coleta e apuração dos votos. Agora, fazendo pior, recomenda aos seus que, no dia 30, depois da votação, não abandonem as seções eleitorais. Para quem entende que a posse e uso de armas é legítimo, para quem insinua contar com um exército próprio, mais uma escandalosa impropriedade, daquelas que nos faz lembrar a história do sapo que não pula da panela cuja água vai esquentando aos poucos. Também não é possível deixar de perceber que o presidente e candidato está mais uma vez sendo incoerente.

Se ele insiste em afirmar que não confia no sistema eleitoral, se faz bem mais que insinuar que pode de alguma forma estar sendo vítima de uma grande conspiração sobre a qual não adianta absolutamente nada, sequer um indício mínimo que seja, na realidade ele está dando mais um tiro no próprio pé. Afinal como deixar de considerar que, mesmo tendo menos votos que seu oponente no primeiro turno, seu partido, o PL, elegeu a maior bancada na Câmara dos Deputados, além de reforçar substancialmente o número de cadeiras no Senado. Neste caso, não teria havido fraude e os votos, por misteriosa e inexplicada alquimia, teriam sido separados entre aliados e opositores. A informática e toda a tecnologia que a suporta chegam muito perto de fazer milagres, mas tanto quanto se saiba não a este ponto. Se não é possível deixar de perceber o embaraço, o mesmo acontece com relação ao silêncio, que teria sido ordenado diretamente do Palácio do Planalto, sobre as conclusões dos militares que acompanharam todo o processo de votação e apuração no dia 2 passado.

Além de inapropriado, tal comportamento contém elementos bastante sensíveis do ponto de vista constitucional, continua alimentando tensões absolutamente indesejáveis enquanto se esperava que a reta final da campanha fosse dedicada à apresentação e discussão de projetos e propostas que, pelo menos, nos ensinem de onde sairão os recursos para sustentar as promessas que vão sendo repetidas, além das contas que já foram feitas fazendo parte do déficit público que não para de crescer.

Como já foi dito, não é aceitável, e nem possível, que as regras sejam mudadas com o jogo em andamento, tudo isso reforçando a impressão de que cada movimento do candidato-presidente é muitíssimo bem ensaiado e com objetivos nada desejáveis.

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