Opinião

EDITORIAL | Pensar no que importa

EDITORIAL | Pensar no que importa
Crédito: REUTERS/Gregg Newton

Depois de uma semana em que as tensões no País estiveram bem próximas do limite de ruptura, houve, como registrado neste espaço, um sentimento de alívio, reforçado por novas declarações de presidente da República, que atribuiu seus arroubos no discurso em São Paulo no dia 7 ao calor dos acontecimentos.

Alguns entendem que, finalmente, tendo esticado a corda além do limite, Bolsonaro finalmente vai se comportar melhor, exatamente reduzindo as tensões que tem impedido qualquer êxito relevante na gestão pública. Outros preferem lembrar que está apenas sendo repetida a técnica do morde e assopra, que praticamente virou rotina em Brasília.

Quem tem bom senso torce exatamente para que o bom senso prevaleça e as atenções e energias do governo federal possam, finalmente, ser voltadas para o que interessa, é relevante e, sobretudo, de extrema urgência. Afinal, como surpreendentemente o ministro Paulo Guedes admitiu no final da semana passada, o clima de instabilidade que tomou conta do País dificulta a recuperação da economia e afasta potenciais investidores. É preciso acrescentar que tais declarações foram feitas exatamente a um grupo de visitantes vindos de fora.

Há também quem acredite que a sensação de alívio veio acompanhada de uma dose excessiva de otimismo. Quem pensa assim diz que o presidente não mudou, apenas recuou quando percebeu que o 7 de Setembro não seria, como ele próprio chegou a declarar uns dias antes, uma marco divisor do que ele entendia como um novo tempo, mas tendo ficado no ar a impressão de que a direção traçada era a do golpe, esvaziada pela própria marcha dos acontecimentos e reações públicas. Sem contar, comenta-se em Brasília, um discreto veto de setores em que Bolsonaro imaginara encontrar sustentação para sua empreitada.

Passou o perigo imediato, mas nada indica que tenham passados os riscos. Dito de outra forma, e tal a gravidade dos acontecimentos recentes, não pode ficar o dito pelo não dito, numa acomodação que pode ser conveniente para alguns dos personagens que estiveram no palco nos últimos dias, mas que também pode significar apenas perpetuar as ameaças – e os interesses – que amarram o País, impedindo que evolua na consolidação plena e definitiva da democracia.

E abrindo espaços para a recuperação de valores que, de fato e não apenas por demagogia ou marketing, coloquem o Brasil em primeiro lugar, fazendo da ética, da correção e da gestão eficiente não mais a exceção, mas, pura e simplesmente, o estrito cumprimento de deveres e obrigações dos quais a política, os políticos e os gestores públicos não podem se afastar.

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