EDITORIAL | Pode ser diferente

Depois de quase dois anos, a pandemia provocada pelo coronavírus continua sendo um desafio para o mundo inteiro. Novas cepas, novos surtos e conhecimento científico apenas relativo sobre o que se passa e o que ainda pode vir. O Brasil, felizmente, vive um período de relativa calmaria, presentemente com os melhores indicadores do ano relativos a contaminações, internações e fatalidades, mas permanece o medo de novos surtos, de cepas mais resistentes, enquanto o processo de vacinação prossegue distante de uma cobertura realmente segura. Nos países mais pobres, na África especialmente, onde a vacina é um luxo para muito poucos, resta talvez apenas o fatalismo que lhes é duramente característico.
No mundo rico e desenvolvido, onde conhecimento e recursos são abundantes, possibilitando cobertura vacinal mais satisfatória, também existe medo e incertezas, persistindo ainda, tanto na Europa quanto na America do Norte, o abre e fecha de comércio, escolas etc., uma das características desses tempos tormentosos.
Da mesma forma, incertezas com relação ao alcance das vacinas, no que toca à cobertura propiciada e, na esteira dessas dúvidas, discussões sobre a conveniência e oportunidade da aplicação de uma terceira dose, especialmente nos mais idosos. Discussão que já chegou ao Brasil, dando-se por decidido que a parcela mais frágil da população receberá uma terceira dose ainda neste ano.
Movimentos que levam a uma outra discussão, igualmente necessária, e a uma decisão difícil. Trata-se de determinar o que deve vir primeiro, se a efetiva cobertura de toda a população ou este desvio, digamos, emergencial. Uma decisão, espera-se, pautada exclusivamente pela ciência mas ainda assim com componentes éticos igualmente relevantes.
E tudo isso sem impedir que seja entendido que a segurança global, de ricos e de pobres, só será alcançada a partir do momento em que toda a população tiver acesso à vacina, decisão crucial que está nas mãos dos países ricos e que, na realidade, lhes interessa tanto quanto aos destinatários das vacinas.
Questão de elementar racionalidade, a mesma que em tantos momentos fez falta como nos vinte anos de ocupação do Afeganistão, a um custo estimado de um trilhão de dólares, além de centenas de milhares de vidas. De tudo isso, como único resultado, equipamentos bélicos no valor de bilhões de dólares e já apossados pelos antigos inimigos.
Cabe refletir, cabe com certeza fazer diferente e o exemplo da vacina bem ilustra o que tentamos demonstrar. Este sim, o marco de um novo tempo em que os recursos, as riquezas e os conhecimentos teriam alcance universal, gerando entre outros benefícios a segurança que armas não são capazes de proporcionar.
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