Opinião

EDITORIAL | Política não tem pudor

EDITORIAL | Política não tem pudor
Crédito: Paulo Whitaker/Reuters

A cruzada contra a corrupção, que culminou com o impeachment da presidente Dilma e posterior prisão do ex-presidente Lula, parece ter sido, no final das contas e apesar de provocar tanta histeria, uma grande farsa, em que as boas práticas de gestão pública eram a menor das preocupações. Os bons propósitos também minguados ou inexistentes e a ambição não tinha limites, fato bem evidenciado no processo seletivo das investigações e processos, tudo muitíssimo bem montado exclusivamente para desobstruir a rampa de acesso ao Palácio do Planalto, o que afinal foi conseguido.

Fiquemos nos fatos, sem atribuir valor, ou preferência, a grupo ou pessoas, nesse pobre enredo em que parece não ter sido reservado lugar para mocinhos, nem mesmo o idolatrado juiz Moro, peça-chave em todo processo, hoje sócio-diretor da empresa que cuida da recuperação judicial da Construtora Odebrecht e de outras também alcançadas na suposta “faxina” por ele comandada.

Tudo isso já parece passado distante, os que batiam panelas e vestiam camisas amarelas para marchar contra a corrupção devem ter agora outras ocupações, dão por cumprida a missão proposta, mesmo que no meio do caminho tenha ocorrido imprevisto, e para alguns incômodo, desvio.

Eis que, reforçando estas avaliações, surgem agora notícias de que, nas articulações à escolha e eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira, dizem que preferido do presidente Bolsonaro, pode acabar contando com apoio da bancada do PT, ainda a maior da casa. Tudo evidentemente, dizem as boas fontes de Brasília, por conta de um arranjo muito peculiar.

Algum cacique do PT, seu vice-presidente já cuidou de dizer que o partido não tem nenhum problema com Arthur Lira, antecipando que “deve apoiar o candidato que abrir mais espaço de participação e tiver compromisso com uma pauta democrática”. Até as paredes de Brasília sabem, claro, que não é nada disso.

O preço do apoio, aliás muito conveniente para todas as partes, seria o fim das investigações sobre corrupção, com o virtual fim da Operação Lava Jato que, sabem os menos inocentes, já cumpriu seus objetivos. Até mesmo o fim da chamada “Ficha Limpa” poderia fazer parte desse acordão onde muito naturalmente PT, centrão e Bolsonaro se encontram.

Eis a pauta mais importante em Brasília hoje, onde aparentemente os mortos da Covid, que já se aproximam dos 200 mil, não considerados e a vacina, que pode conter a salvação de milhares de vidas, é apenas um ingrediente a mais na disputa da próxima eleição presidencial.

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