EDITORIAL | Politicagem desnudada

Num país de memória seletiva, nunca será demais repetir. No caso, para recordar os apelos, incontáveis, pela realização da reforma política, entendida como ponto de partida para as transformações que, não tendo sido feitas, hoje cobram dos brasileiros uma conta sem tamanho. Pior, sem que, concretamente, muito pouca coisa mude. O exemplo que hoje nos faz voltar ao assunto, vem de perto, da Câmara Municipal de Belo Horizonte, onde as decisões relevantes, poucas, não raro tomam caminhos tortos.
Estamos falando da votação, semana passada, de proposta do prefeito Alexandre Kalil para liberação de verba de R$ 1 bilhão, destinada a obras destinadas a solucionar ou minimizar riscos de enchentes e inundações no bairro Vilarinho.
Eram necessários 28 votos para aprovar o projeto e ficou faltando um. O prefeito perdeu e no seu estilo franco já disse que quem quiser reclamar das constantes inundações que vá bater às portas da Câmara. Pior que a questão administrativa são os bastidores da votação em que, evidentemente, os méritos da proposta não chegaram a ser debatidos. Era uma questão política que estava na mesa, mais uma vez, e no pior sentido, a decisão foi política. Tanto que ao final a oposição vitoriosa (?) comemorava que o prefeito teria “aprendido a lição” e numa nova oportunidade será mais humilde, “saberá conversar”. Entendam os leitores que esta segunda expressão tem um sentido, digamos, elegantemente, pelo menos controverso.
Entristece, espanta, revolta, que em nenhum momento os senhores vereadores ou, mais precisamente, aqueles que negaram o pedido, consideraram o conteúdo da proposta e o que ela significaria, em termos de benefícios diretos e imediatos, para milhares de moradores de Belo Horizonte, assunto pelo que se viu absolutamente desimportante. Pior, sinal de um padrão já transformado em rotina que só varia na hora dos comícios de quem está pedindo votos e repete todas as juras de compromisso com o interesse coletivo.
Aconteceu em Belo Horizonte agora, acontece no Brasil inteiro, com nossas desculpas e respeito por aqueles poucos que fogem à regra, exceções contadas nos dedos da mão. A ideia explicitada, no caso em tela, não era atender a população, a mais elementar das obrigações dos senhores vereadores, mas sim decidir conforme as inclinações ideológicas ou partidárias.
Triste destino para um povo que vive num país onde tantos e tão graves problemas pedem solução.
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