EDITORIAL | Primeiro passo para mudanças

Embora seu destino seja ainda incerto, persistindo dúvidas sobre suas reais consequências, a reforma previdenciária, já aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados, continua sendo apontada como decisiva para que o País recupere a estabilidade e reencontre a rota do crescimento econômico. As expectativas são realmente grandes, tanto que seus efeitos já são comparados à estabilização monetária através do Plano Real. Também não falta quem cuide de lembrar que ajustar as contas da Previdência, na hipótese de que isso realmente ocorra, não é a resposta para todos os males. Será apenas o primeiro passo, uma espécie de prévia para uma série de ajustes, ou reformas, exatamente como foi dito à época do Plano Real, com o entendimento claro de que a estabilização monetária não seria resposta para todos os males, mas apenas pré-requisito para mudanças que alargassem as possibilidades do País no campo econômico, assegurando o tão falado crescimento sustentado.
A obra, apesar de seu êxito, de seus efeitos que continuam sendo positivos e, talvez, sobretudo, da constatação de que não existem obstáculos que não possam ser superados, forçoso reconhecer, ficou pela metade. As reformas não vieram, foram sendo postergadas porque contrariavam interesses políticos poderosos, e a constatação final é de que o País conseguiu escapar da inflação que parecia estar fora de controle, mas não conseguiu arrumar a casa, daí resultando as dificuldades que agora se repetem.
É fundamental que tudo isso seja percebido com clareza e que os mesmos erros não se repitam. Não é certo e nem provável que a reforma em andamento, se concluída, baste para fazer com que aconteça a virada tão esperada quanto necessária. Não é provável tampouco, como alguns afirmam, que bastará para que investidores estrangeiros voltem a correr para o País. Sobra otimismo em algumas áreas, nas mesmas em que parece faltar racionalidade. E faltará, sobretudo, criar um ambiente menos hostil a quem investe, empreende, produz empregos e gera riquezas, gente que a história, na grande maioria dos casos, injustamente transformou em vilões.
Reduzir este antagonismo sempre latente, reduzir drasticamente a burocracia e seus custos, além de devolver um mínimo de racionalidade ao sistema tributário são medidas que devem ser entendidas como necessárias e, mais que isto, urgentes. Seria o melhor significado para o tão falado “destravar” da economia, removendo obstáculos e custos que, pouco inteligentes que são, não têm como ser explicados.
Para resumir, vale, e muito, a comparação com o Plano Real. O que está sendo feito agora deve ser entendido apenas como o ponto de partida.
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