Opinião

EDITORIAL | Prioridades equivocadas

EDITORIAL | Prioridades equivocadas
Crédito: REUTERS/Adriano Machado/File Photo

O ministro Paulo Guedes abriu a semana cumprindo o ritual de reafirmar que a economia está reagindo, mas, diferentemente de outras ocasiões, tocou numa tema delicado, deixando no ar uma advertência. Segundo ele, a antecipação das eleições produz danos severos, quebra a confiança dos agentes econômicos e retarda medidas necessárias à recuperação.

Guedes acertou em cheio, mas chegou atrasado. No Brasil, sobretudo depois que a possibilidade de reeleição foi estabelecida, não será exagerado afirmar que as campanhas não param, que tudo é feito no Executivo, quase exclusivamente, mirando um segundo mandato.

Poderia ser até um bom sinal, desde que este ímpeto fosse traduzido em boas ações, em gestão competente e comprometida, exclusivamente, com um programa de governo bem estruturado e aceito. Não seria nada difícil entender que a reeleição, nessas condições, seria consequência absolutamente previsível do bom desempenho, da aprovação traduzida em votos.

Interessante notar que os políticos chegam a cargos executivos sempre prometendo que a reeleição está fora de suas cogitações, que seu único interesse, ou dever, é responder à confiança dos eleitores, bons propósitos que como regra são postos de lado no dia seguinte à posse, senão até antes.

Tem sido assim e é assim no momento, num processo que compromete a gestão e, como bem assinalou Paulo Guedes, pode paralisar o governo, o que para ele põe em risco suas melhores previsões. Definitivamente não é pouca coisa diante das ameaças que o País enfrenta, em particular a volta do fantasma da inflação. 

Mais uma vez, nada de novo, nada que não seja bem conhecido dos brasileiros, sobretudo quando se verifica que no mundo político as preocupações com as verbas para a campanha eleitoral são muito maiores que as atenções dedicadas ao combate e controle da pandemia, como se a morte de, hoje, perto de 600 mil brasileiros, não fosse mais que um incidente.

Pagamos todos pelos nossos pecados e, pior, teimamos em não aprender, num processo em que, se a culpa maior pertence aos maus políticos, é necessário que seja partilhada também com a omissão da tal maioria silenciosa, que sabe o que está acontecendo mas prefere fingir que nada lhe diz respeito. Ou desqualifica política e políticos, sem se dar conta de que eles deveriam representar o ponto focal da vida em sociedade. Sem perceber também que eleições existem, numa democracia, tendo como pressuposto que as escolhas feitas refletirão o melhor e a vontade da maioria.

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