EDITORIAL | Problema e solução

O aproveitamento racional dos recursos disponíveis deveria ser – num planeta exaurido e caminhando para um ponto sem retorno, que pode chegar ao extremo de comprometer a sobrevivência – a primeira das preocupações.
A prática, mesmo no mundo desenvolvido, parece sugerir o contrário, indicam questões como o consumo excessivo, desarrazoado não raro, o desperdício do qual os mais evidentes sinais são o acúmulo de lixo e os quase sempre acanhados esforços de reciclagem. Em muitos casos, levando em conta a parcela da população global que não tem acesso a alimentos na medida necessária, atitude que não seria exagerado definir como criminosa.
Estamos enxergando o presente, em que a parcela da população em situação de miséria cresce, parte dela tentando encontrar, justamente nos lixões nas suas variações mundo afora, o mínimo para sobreviver.
Poderíamos também lembrar, em termos, o caso oposto, em que o Brasil aparece como protagonista. Apontaríamos então a reciclagem de latas de alumínio, embalagens de cerveja, refrigerantes e outros produtos, que, no País, está próxima de chegar aos 100%, um recorde mundial que implica em renda para os necessitados, mas igualmente tem uma escala econômica muito relevante. Fazer mais, multiplicar o modelo do recolhimento, separação e reciclagem, tem muito a ver com racionalidade econômica, com o uso mais inteligente dos recursos disponíveis.
Como dizíamos em comentário recente, vale também para a água, especialmente quando tratada, em que o desperdício no Brasil chega aos 40%, para material plástico, como embalagens de refrigerantes, que produzem poluição ambiental, mas poderiam ser matéria-prima para uma infinidade de produtos. Tudo isso e muito mais com o lixo que vai sendo acumulado, transformando-se num problema sem solução em muitas metrópoles. Um único exemplo, divulgado faz pouco e que ilustra as dimensões do problema no Brasil, vem do Rio de Janeiro.
Estudos da Federação das Indústrias local revelam que, anualmente, são descartadas 7,98 milhões de toneladas de resíduos sólidos nos 20 aterros sanitários existentes no estado. O valor desse material, estimado por alto, chega a mais de R$ 1 bilhão, mas apenas 39,9 mil toneladas, o equivalente a 0,5% do total, vão para reciclagem. Considerando ser o Rio de Janeiro o segundo estado mais rico do País e a falta de dados precisos, é possível imaginar as proporções do problema, considerado todo o Brasil. Problema, cabe repetir, que também embute solução e uma infinidade de oportunidades que não são consideradas. Deveriam ser.
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