EDITORIAL | Processo de saneamento

O governador Zema é direto e objetivo ao afirmar que Minas Gerais está tecnicamente quebrado e sem ações objetivas e consistentes, além de ágeis, não terá como reverter esta situação, devolvendo ao Estado condições de cumprir satisfatoriamente suas atribuições.
Simplificar é a definição mais direta da diretriz que o governador, acertadamente, pretende imprimir à sua gestão. E desse rol faz parte reduzir o quadro de funcionários do Estado, que hoje abriga mais de 600 mil pessoas e, incluindo os inativos nessa conta, consumindo perto de 80% do orçamento. Só para começar, e sem lembrar que os salários não são pagos regularmente faz tempo, é preciso ter em conta que em Minas a Lei de Responsabilidade Fiscal não está sendo cumprida.
O governador tem dito também que para reequilibrar suas contas o Estado deve, e não sem uma boa dose de humildade, aceitar negociar suas dívidas com a União, mesmo que para chegar a um acordo tenha que fazer concessões que a muitos soam impertinentes.
Não cabe agora e neste comentário, aprofundar na discussão dessa questão, ainda que nunca se deva deixar de lembrar ao governador que Minas tem um gordo crédito a receber em Brasília, representado pelas compensações geradas pela Lei Kandir, o que remete a discussão a um novo patamar e sugere que um encontro de contas, que aliás nos seria favorável, absolutamente não é uma hipótese a ser ignorada. E muito menos aceitar o argumento daqueles que dizem que esta dívida simplesmente deve ser apagada pelo esquecimento. O ponto aqui, agora, é outro.
Estamos supondo que num momento à frente, e necessariamente o quanto antes, este acerto, ainda que na sua forma mais dura, foi feito. Parecerá um alívio, com a volta da normalidade para os funcionários e fornecedores do Estado que têm sido tão sacrificados. Ilusão se alguns maus hábitos não foram desmanchados com a mesma velocidade. Nessa hipótese os problemas estarão sendo apenas adiados, como no passado, e ressurgirão à frente, maiores e mais graves. Como bem disse o governador, nada, absolutamente nada, justifica que o Estado abrigue funcionários fantasmas, evidentemente gente que tem bons padrinhos e não trabalha.
Aparentemente já foi pior, mas Zema reconhece que o problema ainda existe, que ainda tem gente dependurada nos tais “cabides de empregos”. Tem que acabar, como tem que acabar muitas das vantagens que inflam os rendimentos de algumas categorias superiores, nos três poderes, e ajudam a esvaziar os cofres.
Afinal de contas, mudar, fazer a nova política como prometeu o governador ou, visto de outra forma, simplesmente acertar as contas, demanda promover uma limpeza, quase um saneamento, que nunca foi feita. Ou o novo envelhece antes da hora.
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