EDITORIAL | Procurando explicações

O Brasil definitivamente tem sido uma terra bastante pródiga para alguns e os bancos estão entre os que não têm do que reclamar, aqui realizando ganhos que não têm paralelo no planeta. Como um deles, de origem espanhola, cujas operações locais representam menos de 10% de suas atividades globais mas oferecem a maior fatia de seus ganhos. A relação de causa e efeito entre ganhos e juros praticados, de longa data também os maiores no planeta, nos parece bastante óbvia para não ter como ser contestada. Ainda assim o setor, cuja influência não conhece limites, não se dá por satisfeito, como na recente decisão de suspender as operações de crédito consignado, diante da possibilidade de tímidas restrições aos abusos implícitos nessas operações.
Aos que não percebem o que se passa é preciso explicar um pouco mais. Primeiro, os bancos sustentam que as taxas elevadas de juros guardam proporções, até certo ponto, com os riscos dessas operações, uma meia verdade, ou mentira inteira, que definitivamente não se aplica ao crédito consignado, onde não existe risco, mas as taxas cobradas vão muito além do minimamente razoável, impondo aos tomadores custos que mais propriamente poderiam ser chamados de extorsivos.
Ainda assim, e tristemente, ainda existe quem dependa dessa forma de acesso ao crédito, quase sempre para dar conta de despesas tão essenciais quanto a compra de remédios. Fechadas as torneiras, como se fosse algo perfeitamente normal e aceitável, diriam eles, talvez, que parte do jogo, agora apenas aguardam que o governo recue, o que não deve demorar a acontecer. E o mais grave é que também os bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que têm peso relevante no mercado, fizeram o mesmo, suspendendo suas operações com crédito consignado. Total absurdo, se considerado que estes bancos deveriam e poderiam funcionar como espécie de reguladores do mercado, impondo aos demais, pela concorrência, limites pelo menos dentro do razoável.
Dizem os bancos que o patamar de juros sugerido pelo Ministério do Trabalho, de 1,7% contra os 2,4% que vinham sendo praticados, já aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social, não é sustentável. Como já foi dito, a suspensão prejudica a oferta de crédito justamente numa das áreas mais sensíveis, mas, se mantida, certamente representará perda de ganhos também para os bancos, fazendo crer que a queda de braços não durará muito, ainda que todos os movimentos tenham sido feitos fora da área natural de competência.
É esperar para ver até que ponto a corda será esticada e, sobretudo, entender se os bancos públicos serão chamados a cumprir seu papel e, por que não, suas obrigações.
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