EDITORIAL | Prudência não faz mal

Irineu Evangelista de Souza, que viveu entre 1813 e 1889, mais conhecido como Barão de Mauá, foi o único empresário brasileiro, em todos os tempos, cuja atuação teve alcance e reconhecimento mundial. O único a falar com seus pares, em Londres, de igual para igual. Ainda assim não foi reconhecido na sua época, mesmo que tenha sido virtual “dono” do Uruguai, principal financiador da Guerra do Paraguai ou fundador do Banco do Brasil. Terminou a vida em virtual ostracismo e as muitas sementes que plantou não vingaram.
Seu nome nos vem à lembrança a propósito de fatos recentes, envolvendo a Lojas Americanas numa possível fraude cuja extensão e elementos não são ainda bem conhecidos, mas supostamente envolve seus principais acionistas, os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, cujas atividades, de alcance global, permitem comparações que remetem a Mauá. Os três, que figuram entre os brasileiros mais ricos da atualidade, controlam um portfólio de empresas gigantesco, global, sem nenhum outro que lhes faça sombra, carregando em suas atividades marcas de ousadia e alguma controvérsia que reforçam a comparação feita acima e ajudam a explicar o sucesso que alcançaram.
Hoje, por conta da Americanas, que, pode-se afirmar, corresponde a pequena parcela de seus muitos negócios, estão sob fogo cruzado, num processo de desconstrução e descrédito que nos parece um tanto precipitado, talvez exagerado. Pelo que fizeram e pelo que representam, pelo alcance de seus negócios e o que eles significam para o País. O tempo dirá se erraram, se foram omissos ou até que ponto estariam comprometidos com as manobras contábeis, a rigor desastradas, para esconder o mau desempenho da Lojas Americanas ou salvar pelo menos as aparências. De qualquer forma, e por enquanto, nada que justifique apagar o brilho de sua trajetória no mundo dos negócios, num percurso que sabidamente incomodou muita gente mundo afora.
Absolutamente não se trata, pura e simplesmente, de exaltá-los e defendê-los. Apenas de lembrar que eles também representam, como Mauá no passado, marcos de sucesso que ajudam a projetar a imagem do Brasil e de seus empresários no exterior. Uma alavanca de cuja importância não nos parece necessário falar e na mesma proporção provoca incômodos – e possivelmente reações – lá fora. Afinal, estamos falando de uma guerra sem tréguas, assim conhecida e aceita, em que as armas não são mais canhões. Sem a menor dúvida são pontos que a prudência, além dos interesses nacionais, recomendam que sejam considerados.
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