EDITORIAL | Quando passar a tempestade

Duzentos mil mortos em menos de um ano, número atingido na semana que passou, é a cicatriz mais profunda da tragédia que se abateu sobre o Brasil, com danos que se ampliam em outras esferas, como a econômica, sem que se possa esperar alívio no curto prazo. Ao contrário, com o relaxamento das medidas de isolamento e, principalmente, por conta dos excessos cometidos no final do ano, existem bons motivos para acreditar que os piores números, de contaminações e fatalidades, ainda estão por vir.
Nesse contexto, Belo Horizonte e parte da região metropolitana voltaram, esta semana, ao regime de paralisação das atividades não essenciais, inclusive com o fechamento do comércio varejista, restaurantes e serviços.
Medida extrema, precedida de seguidas advertências e apelos por um comportamento mais condizente com a gravidade da situação, mas, no entendimento dos especialistas que assessoram o prefeito Alexandre Kalil, inevitáveis nas circunstâncias, sobretudo pelas evidências de que o sistema médico-hospitalar estaria operando já bem próximo de seu limite. Também é preciso lembrar que estão dentro dos protocolos que estão sendo replicados, em alguns casos com rigor ainda maior, em alguns países europeus, onde igualmente a situação é bastante crítica. Verdade, mas ao mesmo tempo algo muito difícil de explicar tanto aos empresários que resistiram penosamente no ano passado, esperando dias melhores no ano que se inicia, quanto aos trabalhadores que continuam perdendo emprego e renda, agora sem poder contar sequer com a ajuda emergencial patrocinada pelo governo federal.
E não se trata, em absoluto, do falso dilema entre escolher proteger vidas ou proteger negócios. Entendemos que a questão central, especialmente para o Brasil, reside no melhor entendimento da excepcionalidade da situação e, consequentemente, da necessidade, imperiosa, de quebrar paradigmas, o que significa, elementarmente, trabalhar conforme o que é ditado pelas circunstâncias. Será a saída, não temos dúvidas, agora, diante da emergência da sobrevivência e, mais tarde, passada a tempestade, quando a tarefa impositiva for a reconstrução.
Significa também, e de forma igualmente impositiva, a busca da convergência que permita a todos, sobreviventes, remarem na mesma direção, somando e potencializando esforços com a racionalidade que situações como a presente costumam deixar como legado. Nessa perspectiva, o que agora parece involução poderá, adiante, significar evolução na direção de um mundo melhor e mais equilibrado.
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