EDITORIAL | Que seja o ponto final

Custou mas finalmente a sociedade civil, por suas mais fortes e reconhecidas representações, finalmente reagiu à sucessão de impropriedades cometidas pelo senhor presidente da República, em especial suas acusações ao sistema eleitoral. O estopim para tal reação foi a esdrúxula convocação, à margem das mais elementares normas diplomáticas, de embaixadores aos quais repetiu suas desconfianças, como de costume sem apresentar nada de concreto, sobre as urnas eletrônicas como se estivesse antecipando que não aceitaria o resultado da votação de outubro.
Foi um tiro no pé, senão em órgão vital, diante das prontas reações, começando pelo governo dos Estados Unidos, através de seu embaixador em Brasília, que divulgou nota afirmando que confia no sistema eleitoral brasileiro, apontado como dos melhores do mundo e igualmente na força da democracia no País. Seguiram-se outras manifestações diplomáticas, além de farto noticiário internacional, sempre apontando as extravagâncias do presidente. Da mesma forma, foram contundentes as intervenções das altas cortes do Judiciário, não faltando sequer um atestado de qualidade das urnas firmado pela Polícia Federal.
Estes movimentos produziram, no seu primeiro momento, uma outra reação, agora dos setores mais representativos da sociedade civil e dos meios empresariais, sempre defendendo a integridade do sistema de votação e exigindo que o País não se afaste dos caminhos da democracia. Também em fase final de votação um grande manifesto que, conforme antecipado, recebera assinaturas de maior peso nos meios empresariais. Até agora o principal alvo dessas manifestações não deu qualquer sinal de reação e é bem possível que não o faça.
Como é costume dizer, de onde menos se espera é que não vem nada mesmo.
Cabe lembrar, contudo, que o patrocinador dessas aventuras, que em mais de uma ocasião mencionou, evidentemente tentando amedrontar, o “meu exército”, sempre se escorou nas Forças Armadas, remetendo ao golpe de 1964, chegando inclusive a acrescentar que “só Deus o tiraria do poder”. Mais explícito impossível, além de conter motivos de sobra para uma reação contrária e enérgica, dentro da lei. A respeito, estranha-se o ensurdecedor silêncio, que permanece, das Forças Armadas, que evidentemente não são representadas pelos oficiais reformados que cercam o presidente.
Já está um pouco tarde, mas ainda é tempo para que elas se façam ouvir por seus legítimos porta-vozes, juntando-se aos que defendem a democracia, a liberdade e a ordem constitucional. Quando menos, como estrategistas que são, por recordarem que as condições de hoje nada têm que ver com as de 64.
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