EDITORIAL | Quem fica com chave do cofre

Corrupção no Brasil, conforme palavras de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), é um processo sistêmico, além de bastante antigo e onde não parece existir a possibilidade de separar mocinhos e bandidos, tal como na ficção. A questão parece ser meramente de oportunidade, como bem demonstrou o deputado federal Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Estado e frequentador de manifestações contra a corrupção, hoje presidiário sob acusação de ser o dono de R$ 50 milhões guardados em um apartamento em Salvador, na Bahia.
Como já foi dito aqui, corrupção não é somente aquela que escorre de grandes contratos, como os da Petrobras. Estas chamam mais atenção, ganham manchetes e servem a objetivos onde não existem virtudes e sim ambições. Cabe chamar atenção, como já foi feito nesse espaço, para a pequena corrupção que acontece em pequenas prefeituras e câmaras municipais, isoladamente mais discretas e menos volumosas, mas no todo muito possivelmente representando algo ainda pior face aos danos que produz e às pessoas que atinge.
Estamos lembrando de desvios em merenda escolar, em material escolar, em combustível nas prefeituras, em viagens forjadas ou desnecessárias, no geral transformadas em cursos ou congressos que nunca existiram mas custaram caro. Tudo isso para lembrar um caso que a Polícia Federal está desvendando em São Paulo, em que pelo menos R$ 1,6 bilhão foi desviado dos cofres públicos, envolvendo pelo menos 14 prefeituras. Carne transformada em ovo, pipoca no lugar de proteína, menos arroz que o necessário para alimentar as crianças. Nada de novo, nada que não se repita em escala nacional. No caso em pauta, além dos prefeitos, alguns já presos e quatro cassados, constatou-se também a existência de um grupo de empresários que trabalhavam articuladamente, burlavam licitações, subornavam políticos e financiavam eleições.
Nada, absolutamente nada, faz crer que as torneiras da corrupção tenham sido fechadas, que as operações policiais e julgamentos que provocaram tanto alarde tenham, de fato, significado um processo de saneamento, de depuração da política e restauração de valores mais nobres, enquanto prevalece e é destacada a ideia, falsa evidentemente, de que corrupto é o inimigo político, é o que não reza pela mesma cartilha.
Em síntese, e como já aconteceu num passado não muito distante, apenas um jogo em que se misturam o interesse pelo poder traduzido, sobretudo, na posse da chave do cofre.
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