Opinião

EDITORIAL | Quem ganha, quem perde

EDITORIAL | Quem ganha, quem perde
Crédito: Marcelo Casal Jr./ABr

Se juros altos fossem remédio, o Brasil certamente estaria no melhor dos mundos faz tempo. A experiência pretérita prova que a ideia é absolutamente enganosa, tanto que não é copiada em outros países, mesmo aqueles com inflação bem mais alta que a brasileira. Ainda assim, tocar no assunto é algo absolutamente delicado, muito mais quando quem o faz é o próprio presidente da República, que ao teimar em colocar o dedo na ferida parece disposto a ocupar o lugar que nos seus primeiros mandatos foi do  falecido vice-presidente José Alencar Gomes da Silva. E provocando reações ainda mais iradas quando também questiona a independência do Banco Central, cometendo a heresia de indagar a quem, afinal, ela serve.

Não certamente aos empresários que tomam crédito, situação que, no mínimo, retira a competitividade de seus negócios enquanto obrigatoriamente transfere custos que acabam pesando no preço final, aí sim com riscos evidentes para o comportamento da própria inflação. Não certamente aos devedores, seja qual for a condição de cada um e, muito especialmente, ao maior deles, o Tesouro Nacional. Este, segundo dados recém-divulgados, chegará ao final do ano carregando uma dívida que deverá chegar a R$ 6,8 trilhões, contra R$ 5,95 trilhões no final do ano passado, tendo crescido R$ 337 bilhões, ou 6%, em relação a 2021. Como tem sido dito e repetido, apenas o pagamento dos juros relativos a esta dívida é de longe – muito longe! – a maior das despesas da União. Este também o dano maior, de bilhões de reais, a cada ponto percentual acrescentado à taxa básica de juros.

E basta conhecer a realidade, sem que se imponha o jogo de pressões que redunda em silêncio, para que sejam compreendidos os malefícios do desatino de longa data praticado no Brasil. Nesse particular, se houve competência, foi apenas para transformar o remédio, necessário em certas circunstâncias e em prazos bem calibrados, em veneno. É disso simplesmente que se trata, nunca de mais uma querela política para alimentar antipatias. Como afinal imaginar que a economia possa reagir para além de eventuais espasmos se submetida a tais condições? Por elementar, caberia ao menos entender que se as teses defendidas e praticadas fossem de fato corretas, por óbvio o País já estaria livre de boa parte de seus problemas.

São estes os fatos e diante deles é necessário reagir no mais absoluto pragmatismo, portanto sem qualquer viés político. E deveriam ser os empresários brasileiros, os mesmos que pedem menos impostos e mais crédito, que deveriam puxar este coro, apontando a extensão dos prejuízos que todos sofremos. Ou apontando quem ganha.

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