EDITORIAL | Quem pensa no Brasil?

Depois da viagem ao Egito e Portugal, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva regressa a Brasília e às costuras políticas que acontecem no âmbito da comissão de transição. E, conforme prometido, antecipando o nome do futuro ministro da Economia – ou seria da Fazenda? – para acalmar aqueles que, usando o “mercado” como uma espécie de escudo, se preocupam mais com o rumo de seus próprios interesses.
Pisando em ovos, dadas as circunstâncias, é de se esperar que o futuro eleito deixe prevalecer sua habilidade política sobre a também reconhecida impulsividade. A situação é delicada, por conta do barulho produzido por minoria que se atribui capacidade de impor direitos que são da maioria, e por conta dos desafios de gestão e de caixa que aguardam o novo governo. Nesse cenário recomenda-se muita prudência antes de tudo.
E, conhecido o tamanho dos desafios e o pouco tempo restante até que chegue o momento de assumi-los, sentido de urgência e objetividade. Cabe dizer, a propósito, que até agora a comissão de transição não parece ter se dado conta da realidade, perdendo tempo enquanto deveria se ocupar de colocar na mesa os problemas que estão pela frente, bem como as táticas para superá-los. Preocupa igualmente o tamanho da comissão, que já chegou a 300 integrantes, com escolhas que às vezes parecem aleatórias, divididos em 30 comissões de trabalho. Difícil imaginar que em pouco mais de um mês tudo isso possa ser posto em ordem e, sobretudo, apresentar propostas consistentes.
A campanha acabou, os palanques foram desmontados e aos poucos que persistem em ignorar a realidade cabe apenas fazer que se cumpram os preceitos legais, nunca, jamais, tomar a parte pelo todo. Como alguém disse, é hora de trabalhar, de pensar e cuidar dos problemas reais do Brasil. Como disse o futuro presidente, da miséria e da fome, questões que não podem esperar, mas entendendo também que para atender à emergência será preciso uma engenharia perfeita para que a conta seja paga. Só para lembrar, feitas todas as contas, o déficit real para o próximo exercício pode beirar R$ 400 bilhões. Nada que o País já tenha visto antes, nada que se aproxime das contas apresentadas.
Cabe de qualquer forma esperar, e não sem alguma dose de otimismo, que tudo isso seja visto com clareza e seriedade, num ambiente em que quem não puder ajudar pelo menos não atrapalhe. Afinal, tudo isso não diz respeito à sorte de grupos políticos ou a votos, mas sim ao destino de todos os brasileiros. Fazer diferente será uma espécie de suicídio coletivo.
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