Opinião

EDITORIAL | Quem pensa no Brasil?

EDITORIAL | Quem pensa no Brasil?
Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

O tal mercado, entidade de que ninguém conhece o endereço, mas muitos falam em seu nome e tentam antecipar suas emoções, anda agitado, como costuma acontecer nas trocas de governo, parecendo imaginar-se onipotente, capaz de escolher ou vetar nomes. Se não for atendido, num jogo em que o truque é a ameaça e o medo, o mundo pode vir abaixo. Assim tem sido, assim continua sendo, sem que se note nenhum esforço para pelo menos conhecer esta entidade supostamente tão poderosa, capaz de fazer e acontecer sem ser contestada ou, pelo menos, identifica de maneira mais clara, de tal forma que seus interesses possam ser mais bem conhecidos.

O momento atual não foge à regra, pelo contrário, as sensibilidades estão aguçadas e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde se aloja a comissão de transição, parece ser alvo de todos os radares imagináveis, com qualquer tema de natureza econômica passando pelo crivo sem cerimônia do “mercado”. Nariz torcido – mas ninguém sabe exatamente de quem – para o anúncio, esperado em outras esferas, de que a política econômica será revisada, com menos atenção à especulação financeira e mais cuidados com o investimento produtivo. Muda também a política de privatizações, com o fim da aclamada “liquidação geral” que o atual governo prometeu, mas felizmente não executou, com atenção especial para a Petrobras, reorientada para atender aos interesses brasileiros e não tanto às bolsas, onde são pagos dividendos que não têm comparação no setor.

Os nomes que vão sendo indicados para o ministério e cargos do primeiro escalão são submetidos ao mesmo crivo, começando por Haddad na Fazenda e, mais recentemente, Aloisio Mercadante para o BNDES. É evidente que sempre cabem críticas e preferências, mas não parece ser este o sentido das manifestações atribuídas ao “mercado”, palavrinha muito apropriada para esconder interesses de natureza quase sempre diferentes. Fica implícito, e sem disfarce, que como sempre tem gente pensando em si mesma, nas suas conveniências.

Uma pena, porque atrapalha e tumultua, além de confundir num momento em que toda a inteligência que o País for capaz de reunir necessariamente deveria estar voltada para a construção de soluções dos problemas mais imediatos, que não são poucos, colocando no horizonte projetos capazes de levar a um Brasil que possa aproveitar seus recursos, seus diferenciais positivos, para que possamos chegar, sem mais perda de tempo, ao crescimento sustentado que gere prosperidade ao alcance de todos e recursos para investimentos que não podem continuar sendo empurrados para o futuro.

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