EDITORIAL | Quem sabe faz mágicas

Poderia ser feliz coincidência, o que não é, pode ser manobra política, tentativa de angariar simpatias e, adiante, votos. Fato é que pela terceira vez, apenas no mês corrente, o preço da gasolina foi reduzido, acumulando queda de 13% desde meados de julho passado. A julgar por decisões anteriores e na direção contrária operou-se um milagre, a ponto de a direção da Petrobras afirmar que a queda verificada acompanha a redução dos preços de referência e é coerente com suas práticas de preço. Assim como as majorações anteriores, consequência do alinhamento aos preços internacionais do petróleo, ajudaram, e muito, a jogar os preços domésticos para o alto, impactando a inflação que ultrapassou o teto da meta e quebrou a barreira dos dois dígitos, se anualizada, o movimento agora é inverso, chegando, momentaneamente, à deflação.
Em Brasília o governo comemora, festejando a queda de preços e com os exageros costumeiros chegando a prometer que em breve a gasolina brasileira estará entre as mais baratas do planeta. Reação, justo anotar, que muitos consumidores também festejam, porém sem se dar conta que em janeiro do ano passado o litro de gasolina era vendido a R$ 1,83. E apontar o recuo exclusivamente às condições internacionais, sobretudo à aparente redução dos riscos de desabastecimento por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, é apenas meia verdade, chegando a contrariar tudo o que foi dito sobre o alinhamento de preços, ditado pela incapacidade brasileira de refinar todo o petróleo que consome.
O que mudou, tornando possível o que faz muito pouco tempo era apontado como impossível, tem mais a ver com o calendário político e com o pacote de “bondades” que Brasília vai entregando aos poucos e com objetivos que já não podem ser disfarçados. São movimentos políticos, claramente mirando a eleição de outubro, que por enquanto não alteraram a tendência de votos, conforme apontam pesquisas de opinião. Certo mesmo é que está sendo gerado um passivo que impactará as contas públicas já no próximo ano e poderá ter efeito desastroso nos anos seguintes. Quem fizer as contas entenderá o tamanho do problema.
Para terminar, cabe repetir que, ao fim e ao cabo, quando lhe pareceu conveniente, o governo federal, que também dizia não ter poder para interferir na política de preços da Petrobras, fez o que apontava como impossível, produzindo uma falsa sensação de alívio e, para a frente, se retroceder, algo que não terá como ser justificado.
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