Opinião

EDITORIAL | Questões a ponderar

EDITORIAL | Questões a ponderar
Crédito: Nacho Doce/Reuters

Ouviram o galo cantar, mas definitivamente não sabem onde. A referência cabe àqueles que, sem perder a oportunidade de bater, já acusam o presidente Lula de novamente torrar o dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como fez nas gestões anteriores. Gente que certamente nunca ouviu falar no Export. Import. Bank (Eximbank), com sede em Washington, Estados Unidos, para fazer a mesma coisa, assim como acontece em todos os países que têm uma estrutura econômica minimamente organizada.

Trata-se, pura e simplesmente, de incrementar as vendas de produtos e serviços no exterior, financiando-os sob regras que são tão conhecidas quanto adequadas. E nada diferente do que fez o presidente nas suas duas primeiras gestões, com ganhos, além de econômicos, estratégicos. O resto é intriga, desinformação ou o velho complexo de vira-latas que não nos abandona.

No caso presente, a polêmica foi alimentada pelas declarações do presidente em sua recente viagem à Argentina, quando prometeu se esforçar para incrementar o comércio regional e, ilustrando, mencionou a possibilidade de financiar parte dos investimentos para produção de gás natural na Patagônia. Nessa empreitada, caberia ao Brasil financiar US$ 820 milhões, com direito a construir um gasoduto para receber parte da futura produção, reduzindo na mesma proporção a dependência com relação ao gás natural boliviano. Bons planos, mas, claro, sujeitos também à instabilidade própria da região.

Algo que pode servir aos interesses estratégicos do Brasil na região, mas pode não ser prático, tendo em conta que, segundo estimativas do Ministério de Minas e Energia, por volta de 2030 o País poderá estar produzindo 276 milhões de metros cúbicos de gás natural, uma vantagem para nós e problemas para bolivianos e eventualmente argentinos também.

Em mais sete anos a extração de petróleo no pré-sal poderá chegar a 5,5 milhões de barris/dia e junto com o óleo cru será extraído gás natural, não fazendo sentido que, como na atualidade, ele seja queimado, sem qualquer tipo de aproveitamento, ou injetado nos poços. Fazer diferente demandará gigantescos investimentos e tudo isso deveria entrar nas contas que estão sendo feitas agora, assim como nas avaliações estratégicas que são obrigatórias. Tudo isso sem que não deixe de ser levado em conta que, em parte, o consumidor brasileiro paga caro pelo combustível que consome porque os investimentos em refino foram congelados nos últimos anos, gerando uma dependência que não precisaria mais existir.

Em resumo, o anúncio feito em Buenos Aires pode ter servido às conveniências do momento, pode estar no contexto de apenas financiar exportações, o que é positivo. Desde que não se perca de vista que a questão do petróleo é muito maior e mais complexa.

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