Opinião

EDITORIAL | Questões a responder

EDITORIAL | Questões a responder
A declaração de Bolsonaro, que estava praticamente recluso há quase 40 dias, ocorreu a dois dias da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) | Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Ao prometer reajuste salarial para funcionários federais da área policial, o presidente Bolsonaro retirou o pino de várias granadas, provocando rápida reação em cadeia. A começar, claro, pelo funcionalismo federal, numa fila puxada exatamente por quem também tem poder de fogo, fiscais da Receita Federal. Em pouco tempo a corrida se alastrou, alcançando estados e até municípios, com greves pipocando aqui e ali. Difícil dizer, caso a caso, quem tem e quem não tem razão, num espaço em que convivem supersalários e distorções que não precisam ser mais uma vez enumeradas, com remunerações aviltantes, para piorar em áreas tão críticas quanto educação e saúde.

A peneira da racionalidade – se não nos tais valores republicanos tão falados quanto pouco praticados – precisaria ser passada para que pelo menos o cidadão-contribuinte, que paga a conta, assim como os que cobram justiça possam saber, precisamente, o que se passa. Saber, sobretudo, porque, diante de um Estado reconhecidamente inchado, ainda sobram reclamações desse tipo, como a daquele funcionário infeliz que disse para todo mundo ouvir que a “merreca” de R$ 25 mil reais que recebe, com pontualidade e estabilidade, não basta para atender suas necessidades.

Definitivamente há muito o que fazer, o que talvez ajude a compreender por que o presidente Bolsonaro, ao mesmo tempo que labuta por um segundo mandato, diz sonhar com o dia em que ficará livre para ir à praia à vontade. Afinal, houvesse mais seriedade, de parte a parte, e a primeira tarefa a ser cumprida seria passar um pente-fino em todo o serviço público, expondo-se uma realidade que será incômoda para muitos. Simultaneamente, com o mesmo rigor, cumprir tarefa semelhante para, como gostam de dizer alguns economistas, verificar se existe “espaço” financeiro para atender, dentro dos limites da responsabilidade e do caixa, às demandas colocadas.

Perguntas elementares, de ofício para quem quer que seja que tenha pretensão de cumprir corretamente suas obrigações de gestor público. Ao mesmo tempo de fácil entendimento para quem está do outro lado da mesa, reclamando maus tratos. É de se indagar, estranhando, que ninguém diga uma única palavra sobre a farra que corre solta e quem delas se beneficia, assunto que o funcionalismo público ou pelo menos os líderes da categoria têm obrigação de conhecer muito bem. Uma ação íntegra, inteligente, de quem de fato está sendo preterido e prejudicado, certamente teria a transparência como melhor estratégia. Até porque, dessa forma, seria bem mais fácil cortar gorduras para alimentar quem tem fome.

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