EDITORIAL | Realidade paralela

Os acontecimentos do dia 8 de janeiro em Brasília, por suas características e proporções atos singulares em toda a história brasileira, não podem cair no esquecimento, tampouco serem considerados como algo próprio, pertinente, do processo político, de alguma forma aceitáveis, portanto. Também não podem, banalmente desvirtuados, serem debitados à conta da ação de “infiltrados”, conforme covarde e malsucedida tentativa de, pelo menos, diluir responsabilidades quanto aos aspectos mais graves da fracassada tentativa de golpe. É nessa direção que apontam claramente as investigações em curso, sob responsabilidade da Polícia Federal, já com elementos que não se pode contestar.
Claramente o que se passou foi resultado de ações muito bem orquestradas e amplas, em que a baderna daquele dia seria apenas pretexto para intervenção, em nome da ordem, que, imaginava-se, devolveria o poder a Bolsonaro. Felizmente, e por falta de adesões cruciais, a ópera bufa não se consumou, bem ao contrário, de alguma forma ajudou a consolidar instituições e a própria democracia no País, nos devolvendo a normalidade que alguns – poucos – prosseguem atacando. Tudo isso com os fatos propositadamente desfocados, repetição de mentiras e tentativas de criar algo como uma realidade paralela de frágeis ou inexistentes alicerces, intento para o qual as redes sociais continuam sendo a principal ferramenta.
São anotações pertinentes e necessárias sobretudo quando o processo de indiciamento dos indivíduos diretamente envolvidos nos distúrbios prossegue e, em outras frentes, investigações ajudam a montar o quadro numa visão panorâmica. Algo que expõe a movimentação que parece ter existido durante todo o mandato do governo anterior, acentuada no final de dezembro quando algumas ações foram quase explícitas, fazendo ver que um golpe, portanto a derrubada do governo e o retorno às trevas, foi sim objetivo indisfarçado, dele tendo participado círculos muito próximos ao então presidente da República.
Negar, diante dos elementos já reunidos, e como sempre com recurso à distorção da realidade ou ainda tentando fazer de algozes vítimas, é tarefa que já não se tem como pôr de pé. Mesmo para um bando de alucinados que pela repetição ainda consegue simpatias que a objetividade tende a apagar. São motivos mais que suficientes para que o acontecido não passe em branco, esquecido ou abafado. A verdade é valor absoluto e sempre falará mais alto, de um lado para que inexista impunidade, de outro para que finalmente cesse no País a inclinação por aventuras desse tipo.
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