EDITORIAL | Receita para ser copiada

Desestatização para muitos é uma espécie de mantra, receita perfeita para pôr fim à ineficiência, à corrupção e quaisquer outros vícios que se possam descobrir na esfera pública. Houvesse mais responsabilidade, apego à verdade e bom entendimento quanto ao papel do Estado e fatalmente seria diferente. Talvez começando por destacar, no caso da Petrobras, a mais visada, o volume de ganhos que tem acumulado, essenciais para reforçar o combalido Tesouro Nacional. Poderíamos também apontar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, únicos presentes nos chamados grotões, já que os demais têm como bússola exclusivamente o lucro.
E, claro, não estamos falando da estatal criada para construir o trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, que continua viva, com sede e funcionários, embora o projeto tenha sido abandonado faz tempo. Aí não é caso de ser contra ou a favor, é caso de elementar responsabilidade. Corrupção? Cabide de empregos? Existem? Então que sejam implodidos, seja lá onde estiverem, sem que seja preciso transferir a terceiros, quase sempre estrangeiros, que não disfarçam a cobiça e consideram perfeitamente natural que até mesmo serviços de esgotamento sanitário sejam transformados em máquinas de fazer dinheiro. Normal e aceitável aqui, não evidentemente nos seus respectivos países, cuja vedação a abusos desse tipo preferem não discutir, da mesma forma que não dizem nada sobre a maneira como protegem o seu petróleo.
Claro que não estamos falando de um mundo perfeito, sendo suficiente para isso lembrar que estamos nos metendo no pantanal da esfera pública, onde cabe tudo mas quase nada que seja de efetivo interesse coletivo. É neste sentido que o Estado brasileiro foi sequestrado, enquanto eficiente máquina de propaganda trabalha para convencer que pensar diferente é coisa de comunista ou de quem não compreende a soberania do “mercado”. Por elementar, seria muito mais prático identificar e eliminar com o maior cuidado os erros e desvios para, com igual empenho, reforçar a competência e a qualidade das empresas que deveriam ser também guardiãs de nossos maiores interesses.
Por que e a favor de quem é melhor que prevaleça a ideia de que o mais prático é mandar tirar o sofá da sala? Esta pergunta e todas as demais podem até ficar sem resposta e por óbvias razões. Ainda assim nos atrevemos a recomendar pelo menos aos bem intencionados, que evidentemente existem, que procurem, com isenção e independência, verificar qual é o comportamento dos países ricos, que normalmente são apontados como modelo. As respostas estão lá e não é difícil copiá-las, apesar dos protestos.
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