Opinião

EDITORIAL | Receita para sobrevivência

EDITORIAL | Receita para sobrevivência
Crédito: Pxhere

Tem sido comemorado no Brasil, com boa dose de ingenuidade e maior ainda de malícia, o fato de que as taxas de juros fixadas pelo Banco Central seriam, hoje, as mais baixas de todos os tempos. Houve uma redução drástica na taxa oficial – a chamada taxa básica de juros (Selic) – que de fato despencou nos últimos dois anos.

Falta lembrar, no entanto, que esta é apenas uma referência, que guarda pouca ou nenhuma proximidade com a realidade. Para quem toma dinheiro, melhor dizendo, para quem consegue tomar dinheiro no caixa de um banco comercial, os custos prosseguem extremamente elevados. E neste momento, face a circunstâncias de tão repetidas não precisam ser lembradas, seria crucial para a retomada que o ministro Paulo Guedes imagina que acontecerá no próximo ano, houvesse de fato acesso ao crédito, o que significa evidentemente a custos aceitáveis.

O tema vem à baila a proposito das notícias, ainda sem qualquer confirmação, de que estaria sendo estudada a possibilidade de aumento do depósito compulsório que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central. Ao que foi dito, este dinheiro extra custearia um novo programa de microcrédito voltado para trabalhadores informais a partir do momento em que terminar o auxílio emergencial que lhes é destinado.

Embora esta seja apenas mais uma entre tanta informações desse tipo, ou assemelhadas, ouvidas quase todos os dias, a reação foi imediata. Os bancos logo trataram de fazer saber que não teriam como suportar este novo encargo, sugerem que ele seria mais apropriado ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica, concluindo que não teriam o que fazer se não elevar as taxas de juros cobradas de seus clientes.

Nada oficial, apenas a palavra de um “executivo” que não se identifica e que finge não saber que os ganhos dos bancos que operam no País são vistos como um prêmio de loteria por executivos que atuam na Europa ou América do Norte. Bastaria conferir os balanços dos bancos para confirmar que existe margem, e grande, para manobras que serviriam ao conjunto da economia, tendo em conta inclusive que o setor foi dos poucos que conseguiram sustentar e até ampliar suas margens mesmo convivendo com a pandemia.

Olhando para a frente, sem outras considerações e apenas tentando enxergar o futuro, parece estar faltando alguém que lhes diga que adotar uma atitude mais flexível pode ser o equivalente à receita da sobrevivência.

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