EDITORIAL | Redes de mentiras

À medida que a eleição se aproxima, crescem as preocupações com os riscos representados pela manipulação de informações, principalmente através das redes sociais que possibilitam sua multiplicação ao infinito, transformando mentiras em verdade, influenciando escolhas e resultados. O fato a constatar é que muito foi dito a respeito, os riscos foram suficientemente apontados, mas muito pouco, quase nada, foi feito para conter os abusos. É possível afirmar que, de fato, não houve no Legislativo interesse em estabelecer controles eficazes, o que se repete nas empresas que controlam as redes, numa espécie de conluio em que o mais prejudicado é a cidadania.
O acompanhamento do que se passa confirma plenamente o que está dito no parágrafo anterior. Por exemplo, a intensidade dos disparos através de mecanismos automatizados e os gastos com tais aparatos, todos deixando rastros que levam facilmente à autoria. Da mesma forma se revelam inúteis os supostos controles – e punições – sobre a difusão de fake news, tristemente transformadas na principal ferramenta de propaganda no espaço político, onde o apreço pela verdade parece muito próximo de zero. Falham também os controles que as empresas proprietárias das redes, grandes corporações multinacionais, prometeram estabelecer para deter os abusos, que se repetem em todas as partes do globo.
E não são fantasmas. A ONG Global Witness, que fez uma espécie de armadilha para testar o comportamento das redes com relação às eleições brasileiras, apanhando em flagrante Facebook e Instagram. Tudo muito simples. Foram publicados anúncios, preparados pela ONG, afirmando entre outras barbaridades que o voto se tornou voluntário para eleitores entre 18 e 70 anos, mudanças na data de votação ou afirmando que não há necessidade de apresentar documentos na hora de votar, dentre outras. Nenhuma das postagens, que pelas regras deveria, de pronto, ser classificadas como “sensíveis” foi barrada, a conta utilizada não foi verificada e não havia indicação de quem pagou pelos anúncios.
Pior não poderia ser, ficando explícito que as redes sociais são coautoras nos crimes praticados e, portanto, deveriam ser tratadas com menos indulgência, tamanhos são os riscos que representam, diante dos quais não existe espaço para desculpas ou meias verdades. A Global Witness alerta para a gravidade dos fatos, pede que sejam aumentados os mecanismos de controle e verificação de conteúdo, concluindo que a situação se repete no mundo inteiro. De sua parte, as redes afirmam que não podem comentar o assunto porque desconhecem o relatório, acrescentando que foram utilizadas ferramentas que promovem informações confiáveis. Apenas mais mentiras.
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