EDITORIAL | Refazendo a história

Pode ter sido sinal de desilusão com a política ou de comodismo, pode mesmo ter sido evidência da incapacidade de perceber a extensão dos problemas de governabilidade que o País enfrenta. As variáveis a considerar são múltiplas, mas a certeza de que o silêncio e a imobilidade de setores mais expressivos da vida nacional favoreceram as impropriedades na política e na gestão pública dos últimos anos é fato. Felizmente a sociedade brasileira se fez ouvir, através de manifesto assinado por alguns dos nomes mais representativos da vida nacional, nas suas diferentes esferas, todos, o mais sinteticamente possível, para defender a democracia e condenar quaisquer movimentos em direção contrária.
Definitivamente não foi e não é, como pretende o principal alvo da manifestação, aquele mesmo que enxergou na pandemia não mais que uma “gripinha” e, recorrendo mais uma vez ao diminutivo, apenas uma “cartinha” que ele não leu ou absolutamente não entendeu. Representantes dos mais variados setores da vida nacional, por seus nomes mais representativos, elevaram suas vozes, com toda certeza falando pela grande maioria dos brasileiros, para defender a liberdade e a democracia, no seu mais abrangente sentido e, assim, também a integridade do sistema eleitoral, atacado justamente para fragilizar o processo, na mais inocente das hipóteses para justificar uma derrota que a estas alturas soa previsível, em sintonia com o que diz o manifesto.
Como de costume e denotando até falta de imaginação, não faltaram tentativas de associar as recentes manifestações a esquerdistas e comunistas, categorias, por mais absurdo que possa parecer, até mesmo banqueiros foram incluídos. Nada que possa ter sucesso para além daqueles que ainda acreditam no “mito”. O documento é assumidamente apartidário, se colocando em defesa da democracia e da liberdade, do processo eleitoral brasileiro, reconhecido como dos mais avançados no planeta e entendendo que não existe espaço para contestação do resultado da votação.
Para o Brasil, a divulgação formal do documento, em solenidade na Faculdade de Direito da USP, foi um momento histórico, espécie de resgate do entorpecimento que parece, ou parecia, ter tomado conta de boa parte da sociedade brasileira. Que seja, portanto, o ponto final, se não nas ações contrárias, que certamente não se esgotaram, na apatia que significa abrir espaços ao indesejável. Com toda certeza, também o melhor presente para a nação brasileira no justo momento em que são comemorados os 200 anos de sua independência.
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