EDITORIAL | Regras da insanidade

As superpotências teimam em dividir o planeta entre si, não necessariamente em partes iguais, numa espécie de guerra permanente, não necessariamente fria o tempo todo como alguns costumam dizer. As ameaças têm sido permanentes, assim como provocações, a mais recente na Ucrânia, fazendo a temperatura subir a níveis comparáveis à crise dos mísseis em Cuba, nos anos 60 do século passado.
São lembranças que nos fazem ver que aqueles que se julgam senhores do mundo se espelham. Em 1962 a então União Soviética chegou a instalar bases militares na ilha, a menos de 200 quilômetros da costa dos Estados Unidos, que reagiram. Por muito pouco houve guerra, não fosse o recuo russo na última hora, desmontando os mísseis e devolvendo-os para casa.
Entendem os norte-americanos que estavam apenas se defendendo de ameaça que batia à sua porta. Da mesma forma que pensam os russos agora, diante da ameaça da Ucrânia de aderir à Organização do Tratado Norte (Otan), o que em termos práticos, objetivos e independentemente das simpatias que também são divididas em dois blocos, significaria também colocar mísseis na rota para Moscou. O mesmo jogo num cenário diferente porque agora existe um terceiro jogador, a China, que nas últimas décadas quebrou todas as estatísticas de crescimento econômico, caminha rapidamente para ocupar a primeira posição, com posição militar equivalente. O equilíbrio, nessas condições, certamente não será o desejado em Washington, que já explicitou sua posição, com a arrogância de afirmar que fará o que for necessário para deter esse processo.
Como a guerra na Ucrânia, depois de mais de dois meses, já não ocupa todos os espaços da mídia, o presidente Biden volta suas atenções para Formosa, a pequena ilha que se transformou num pedaço independente da China, prometendo apoio no caso de um eventual ataque e, mais uma vez, quebrando acordos que têm por objetivo evitar que a temperatura se eleve na região. Os ingredientes, notem os leitores, são essencialmente os mesmos que justificam o bloqueio a Cuba, com a incoerência que utilizam o discurso da liberdade e da democracia, problemas que curiosamente não são percebidos na dócil Arábia Saudita.
Mostrar esses movimentos, ressaltando o espelhamento de muitas das atitudes, é exercício destinado apenas a tentar mostrar como e até que ponto o resto do planeta foi colocado numa posição secundária e de submissão, em que pouco resta além de aderir a um ou a outro. E torcer para que, afinal, o equilíbrio não seja definitivamente rompido, desencadeando uma guerra que nos aproximaria do fim dos tempos.
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