EDITORIAL | República de bananas

O planeta acompanha com atenção o desdobramento dos acontecimentos nos Estados Unidos, a partir das eleições que hoje completam uma semana e seu resultado. Não será equivocado afirmar que, majoritariamente, o clima é de comemoração, de descompressão pela perspectiva de que o país mais rico e mais poderoso do mundo retome seu caminho ou, pelo menos, fique livre dos desatinos que marcaram a gestão que termina. Existe também preocupação.
Donald Trump, derrotado sem que existam mínimas bases para sustentar sua versão de que as eleições teriam sido roubadas, promete resistir. E em se tratando dessa figura, que, mais do que nunca, representa para seu país um desvio histórico, nada pode ser dado como certo e definitivo.
Interessante observar os acontecimentos para verificar que o país onde surgiu a expressão banana republic, definição para os países ao Sul do rio Grande, onde como regra a política não conhecia grandeza, hoje se coloca tão próximo da mesma qualificação. O presidente que, fracassado na tentativa de buscar um segundo mandato, tenta agora esticar a corda, revela sua verdadeira face quando diz que foi roubado, não apresenta qualquer vidência, por mínima que seja, capaz de pôr de pé sua alegação, mas também comemora os votos conquistados no Senado. Os mesmos eleitores, o mesmo processo de votação, inválidos num caso, válido no outro.
Para alguns apenas um jogo de cena, para fazer do derrotado vítima e não um loser, que a cultura do país tanto abomina. São poucos, muito poucos, os que acreditam que ainda possa ter sucesso, faltando base jurídica para sustentação dos processos que ele promete desencadear esta semana. O problema, agora, serão os estragos que Trump poderá fazer até o dia 20 de janeiro, quando perde a condição de inquilino da Casa Branca. E já começou. Ainda ontem, e mais uma vez de forma inédita, quando mandou bloquear o acesso da equipe do presidente eleito Joe Biden a informações e recursos para que tenha início o processo de transição. Em termos práticos e objetivos, sem dúvida péssimo começo.
Talvez muito pouco para alguém que, no final de semana, depois de declarar absurdo e descabido, além de ilegal, o processo em que cabe à imprensa – liderada pela Associated Press – somar os votos dos estados e então apontar o resultado, teve que ser lembrado que assim vem sendo feito há 170 anos, inclusive nas eleições anteriores, aquelas em que saiu vencedor.
Resta esperar, resta torcer, resta manter a vigilância, até porque o assunto não diz respeito exclusivamente aos Estados Unidos e sim ao mundo inteiro.
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