EDITORIAL | Riscos cada vez maiores

As redes sociais que têm como suporte a internet estão no centro das atenções, quase sempre em torno das chamadas fake news e sua utilização, em escala crescente para, deliberadamente, distorcer a realidade com objetivos políticos. Tão grave quanto o conteúdo distribuído a milhões, ou bilhões, de pessoas é o fato de que por trás dessas redes estão empresas, hoje entre as maiores e mais ricas do planeta, todas com a mesma origem, transformadas num monopólio alarmantemente unilateral, direcionado, como que obcecadas pela criação de uma realidade paralela, consequentemente donas da verdade e do destino, tornando real o que há muito pouco tempo era ficção.
Nesse mundo de fantasmas que são reais, seria quase inocente imaginar que houvesse um único alvo, um único tipo de serventia a criação de uma realidade paralela, sempre confundindo e agredindo a verdade. São fatos já bem visíveis, alimentando preocupações crescentes, principalmente em países europeus, que, naquilo que lhes interessam, buscam criar mecanismos de controle, assim como sanções aos abusos tão conhecidos quanto repetitivos. No Brasil existe a preocupação, fundamentada em estudos sérios e manifestações contundentes, como em alguns momentos da Justiça Eleitoral. Muita conversa e, infelizmente, pouca ação, a ponto de que se coloque em dúvida que nova e mais rigorosa legislação sobre a matéria esteja aprovada e possa ser aplicada já na eleição de outubro.
E está longe de ser tudo. Veio à tona recentemente que a iFood, líder no setor de aplicativos de entrega, contratou serviços especializados para, através das redes sociais e com suas técnicas bem conhecidas, intervir, desmobilizar e reorientar movimento de entregadores que, no ano passado, reclamavam melhores condições de trabalho e remuneração maior. Nessa ação, hoje comprovada e documentada, não faltaram fake news, perfis falsos e disparos em massa. A própria iFood nega todas as acusações, ao mesmo tempo que anunciou contratação de consultoria especializada para apurar se houve violação de seu código de conduta e ética por funcionários ou fornecedores.
Acrescenta que nunca autorizou ações para desmobilizar manifestações e nunca bloqueou contas de manifestantes.
Cabe esperar que, assim como a defesa da empresa, também as acusações sejam tomadas a sério e tudo se esclareça de modo que a verdade prevaleça e seja amplamente conhecida. E independentemente do que venha a ser apurado, ficam evidentes as proporções da ameaça representada pelo virtual monopólio global da comunicação e, cada vez mais, dos recursos que o setor movimenta.
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