EDITORIAL | Riscos não percebidos

O processo de vacinação contra a Covid-19 em nosso País tem encontrado diversos percalços, que tanto explicam o tristemente elevado número de vítimas fatais quanto o prosseguimento, em bases ainda alarmantes, das contaminações e suas consequências. Desnecessário nos parece, nesse momento, repetir o que se passou, numa sucessão de erros e omissões que, por suas consequências, mais que dramáticas são criminosas, talvez até intencionais.
O ponto a observar neste comentário é outro, igualmente importante e para o qual aparentemente não se tem muita atenção. Queremos chegar aos casos, que não são poucos, de pessoas que tomam a primeira dose da vacina mas não voltam para a segunda, deixando de completar o processo de imunização.
Interessante, além de necessário, registrar que o fenômeno se repete no mundo inteiro e numa escala que assusta. Basta saber que no total foram aplicadas 2,75 bilhões de doses em todo o mundo mas apenas 791 milhões de pessoas foram totalmente imunizadas, ou 10,1% do total. No Brasil, para cerca de 90 milhões de doses aplicadas, as duas necessárias correspondem a 24,7 milhões de indivíduos.
A melhor posição, nesse quadro geral, cabe ao Reino Unido, que, com 47,2% ainda assim não chega à metade. Chegando mais perto, em Minas Gerais as informações são de que 25% das pessoas não compareceram para receber a segunda dose. Se estão corretos os dados, uma posição, pelo menos comparativamente, até favorável.
Nos Estados Unidos, onde o presidente Biden promete completar a vacinação da população adulta até o dia 4 de julho, embora as duas doses não tenham chegado, até agora, à metade da população. Lembrar que, segundo as avaliações médicas, o percentual de imunizados deva chegar a pelo menos 70% da população para que seja possível, de forma segura, controlar e reverter a pandemia, sobram motivos para preocupação e riscos cuja extensão horroriza.
Da mesma forma, é bem possível que estes fatos ajudem a compreender por que o vírus tem atacado em ondas sucessivas. Vacinação nos volumes atuais, algo nunca feito anteriormente, evidentemente gera reações culturais, religiosas e até políticas, o que ajuda a explicar os números coletados e repetidos neste comentário, com variações de escala mas nenhum ineditismo. Mas o fato é que se a cobertura não alcançar os níveis preconizados, persistirão os riscos, inclusive de uma escalada totalmente descontrolada da pandemia.
Em suma, é preciso expor e enxergar a realidade, tentando ampliar, numa escala talvez nunca alcançada anteriormente, campanhas de divulgação e esclarecimento, sem descartar a possibilidade de adoção de medidas mais rígidas e impositivas.
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