EDITORIAL | Sacrifícios sem sentido
A escalada dos preços dos derivados do petróleo, que prossegue, com o litro da gasolina ultrapassando a barreira dos R$ 5, e o do diesel ainda fora dos parâmetros estabelecidos por conta das negociações havidas no mês de maio, continua sendo uma das tormentas que se abatem sobre a economia brasileira. Uma situação que ficou bem visível há pouco mais de uma semana, quando boatos, afinal não confirmados, da possibilidade de uma nova paralisação dos caminhoneiros, provocou uma quase histérica corrida aos postos.
Os caminhões continuam rodando e responsáveis pela movimentação de perto de 60% das cargas movimentadas no País, mas o equilíbrio pode ser definido como bastante precário.
Caminhoneiros reclamam que suas demandas não foram atendidas, empresários, especialmente aqueles vinculados ao agronegócio, dizem que será impossível suportar o esdrúxulo tabelamento de fretes, solução simples e nada imaginativa que alguns burocratas de Brasília teimam em apresentar como resposta à crise, ignorando por completo fundamentos elementares da economia.
Da mesma forma age a Petrobras, como se fizesse parte de um outro mundo, não tivesse satisfações a dar ou hierarquia a respeitar. Ignora o que acontece à sua volta, parece entender como naturais e devidos os lucros que vêm auferindo, e informa que sua política de alinhamento aos preços internacionais do petróleo será mantida. Claramente perdem o Brasil e os brasileiros e ganham os especuladores, muito e especial os que estão fora do País. Por inteiro, um despropósito que não faz o menor sentido, que nega a própria razão de ser da Petrobras, imaginada justamente para livrar o País do jogo sujo do petróleo, que é notório, e não para a ele se alinhar.
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A Petrobras comete um outro erro pelo qual igualmente deveria estar prestando contas, além de propor o rumo de uma revisão que é fundamental. Nos últimos anos, como é sabido, a estatal concentrou atenções e investimentos na prospecção e extração de petróleo, mas errou feio ao, simultaneamente, reduzir seus investimentos em refino. Dessa situação resulta que a autossuficiência na produção de óleo cru pouco adianta, uma vez que o País fica dependente da importação de refinados e é nessa hora que acaba entrando no jogo sujo da especulação internacional.
Os acontecimentos recentes, aqui mencionados, ilustram à exaustão as consequências perversas dessa política, que impõe uma dependência da qual talvez já poderíamos estar livres. E mais grave ainda é constatar que nesse justo momento fala-se, na estatal, em reduzir ainda mais as operações de refino, vendendo algumas das unidades em operação.
Seguir essa trilha é reforçar uma política insana, é impor ao País prejuízos e dependência que poderiam ser evitados e que a estas alturas estão mais que demonstrados.
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