EDITORIAL | São Pedro nos ajude

Passa a fazer parte do rol de problemas que o Brasil enfrenta a perspectiva, nada distante, de colapso no abastecimento de energia elétrica. Não é esta a visão oficial, evidentemente, que admite problemas, já recorreu ao truque de aumentar tarifas na ilusão de que a providência possa ajudar a restabelecer o equilíbrio entre oferta e demanda, ao mesmo tempo que antecipa que não existe risco de apagão neste e no próximo ano. Nem todos pensam da mesma forma. Lembram que o suprimento de energia elétrica é assegurado principalmente por usinas hidrelétricas, que, em conjunto, sofrem as consequências da pior seca dos últimos 91 anos.
Para eles, se o regime de chuvas não se alterar drasticamente nos próximos meses, o risco de colapso das oito principais usinas hidrelétricas da região Sudeste será grande e pode acontecer a partir do mês de novembro. E exatamente no Sudeste estão concentrados população, indústrias e consumo.
A matriz energética brasileira mudou nos últimos anos e a hidreletricidade, que chegou a responder por 85% da oferta, hoje responde por 62%, enquanto usinas térmicas representam 29%, usinas eólicas já chegam aos 13%, enquanto as usinas solares ainda não passam dos 2,5%. Diante de um problema que demanda algum tipo de solução a curtíssimo prazo, a saída possível está nas usinas termelétricas, de operação mais cara e, claro, na redução do consumo. Para a frente, e com um atraso que já passa dos 20 anos, será preciso levar mais a sério a necessidade de diversificação da matriz energética.
Isso significa, dizem os conhecedores do assunto, potencializar as hidrelétricas, que envelheceram, mas com as turbinas reformadas e modernizadas poderão aumentar a oferta em 30% ou mais. Segundo, dar escala, tendo como referência a necessidade, aos investimentos em usinas eólicas e, sobretudo, na captação e aproveitamento da energia solar, onde poderão estar as respostas mais rápidas e mais econômicas. Além de mudanças estruturais, como a produção doméstica e até de pequenas indústrias autônomas, sem a dependência de grandes linhas de transmissão e outros equipamentos. Esforços nessa direção já estão sendo feitos, porém frutos de iniciativas individuais e não como parte de uma política de Estado.
Por horas resta torcer para que, afinal, estejam certos os meteorologistas que acreditam no melhor, afirmando que existem 80% de chances de que a partir do mês de outubro as chuvas voltem ao normal. O bastante para evitar o pior, com a repetição de apagões ou mesmo a necessidade de algum tipo de racionamento.
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