EDITORIAL | Segredos a explicar

Todos nós brasileiros, ou pelo menos aquela parcela que guarda os bons valores da cidadania, temos direito de nos indagar o que terá feito exatamente o general Eduardo Pazuello ao participar de um comício – e não cabe outra palavra para qualificar o evento – ao lado do presidente da República. Comício é ato político, assim vetado pela Constituição a militares da ativa, mas Pazuello pensava estar apenas passeando de motocicleta, naturalmente sem lembrar das eleições do próximo ano.
O que as imagens, hoje um tanto banalizadas pela facilidade de acesso aos artefatos, capazes de registrá-las, são definitivas e conclusivas, mas o próprio governo diz que não foi bem assim. Nesse caso, como interpretar o longo sigilo imposto pelo Exército às apurações, que ele próprio conduziu, sobre o controvertido episódio. Afinal, se o general não sofreu sequer advertência, a conclusão possível é que não houve nada, muito menos razão para silêncio tão prolongado, o que significa que poucos escaparão de chegar ao fim da vida sem satisfazer a curiosidade.
O caso presente vem à tona pela atualidade, mas está longe de ser novidade. A prática é usual, exibindo uma inversão de valores que mais uma vez nos traz à memória o discurso de posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), que começou lembrando que ela e todas as demais excelências são apenas e exclusivamente servidores públicos, elas sim devedoras de respeito e mesuras a todos os cidadãos.
E quem afinal poderia, legitimamente, ser árbitro para decidir quem pode ou não pode, e quando, ter acesso a uma informação de inegável interesse público? Fica a pergunta e outra lembrança, aquela de um grande empresário que disse que o Estado brasileiro foi sequestrado, tomado, por corporações que transformaram o conjunto da população numa espécie inusitada de vassalos.
Repetindo, o caso em tela não foi único, portanto também não inédito. Os “senhores” ou as “excelências” recorrem ao expediente, que pode até ter fundamentos legais, quando atinentes a questões que dizem respeito, sobretudo, às relações com outros países. No entanto, como regra, são absolutamente impertinentes quando privam o cidadão de acesso a informação, um dos seus direitos elementares. Fica a curiosidade mencionada no início deste comentário, que desnuda também enorme contradição que apenas confirma os bons motivos para muita desconfiança nesta hora, em que a maioria dos brasileiros é reservada a triste condição de massa de manobra.
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