[EDITORIAL] Sem chance para erros
O presidente da República Jair Bolsonaro, já perto de completar dois meses de governo, chegou a Brasília carregado pela perspectiva de mudanças que, essencialmente, garantiriam correção e eficiência à administração pública.
E tudo isso traduzido em confiança que, por lógica, impulsionaria investimentos e o crescimento. É possível afirmar que nos meios empresariais essa era a crença predominante, que alimentava inclusive a expectativa de que a força política e o impulso natural dos cem primeiros dias de governo seriam determinantes para o recomeço tão desejado. E tudo isso tendo como símbolo, talvez com alguma dose de equívoco, a reforma da Previdência Social.
Hoje as avaliações são mais comedidas, principalmente por conta de algumas evidências de que falta articulação adequada ao núcleo do poder em Brasília, com divisões que transpareceram de forma surpreendentemente precoce. Uma fragilização, que tem também componentes evidentes de inabilidade, que pode tornar mais difíceis as relações com o Legislativo e, consequentemente, o bom encaminhamento da pauta presidencial. Nesse caldo ainda amargo, contas começam a ser refeitas, seja para a estimativa de crescimento da economia, seja para balizar decisões de investimento.
A referência continua sendo a questão do ajuste fiscal, focado na reforma da Previdência, diante da qual o ministro Paulo Guedes, da Economia, ainda se declara esperançoso, enxergando à frente, desde que mudanças sejam feitas, um “círculo virtuoso em que a confiança sobe, os negócios fluem e o emprego aumenta”. Tomara que esteja correto na sua avaliação, enquanto errarão aqueles que andam dizendo que o nível de crescimento esperado para este ano, em torno dos 3%, dificilmente será alcançado. Coloca-se em dúvida o próprio conteúdo da reforma, que poderia ser votada na segunda metade do ano, porém fragilizada pela preservação de privilégios corporativos que são exatamente o nó da questão e diante dos quais enxergam sinais de que o próprio presidente Jair Bolsonaro estaria recuando.
Tudo isso preocupa muito, tudo isso precisa ser tomado com mais atenção porque os riscos à frente são de proporções abissais. E preocupa mais ainda constatar, diante dos movimentos percebidos em Brasília, no Executivo e no Legislativo, como sinais de que os mesmos velhos hábitos continuam presentes, comprometendo a gestão e consequentemente os resultados. Enxergar a realidade tal como ela se apresenta é o mais urgente para todos nós.
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