EDITORIAL | Sem espaço para pudor

Chega de Brasília a notícia de que, e ao contrário do que muitos imaginam, a reforma política está longe de ser assunto morto e enterrado na Câmara dos Deputados e no Senado. Bem ao contrário, ainda que não sejam as reformas reclamadas, aquelas que sempre encontram abrigo neste espaço.
Primeiro os políticos, aqueles mesmos que há tão pouco tempo se diziam revoltados e escandalizados com a corrupção, cuidaram, ardilosamente, de praticamente desmontar as ações de combate a desvios, ao mesmo tempo que se movimentaram para anular condenações e prisões.
Como já foi dito, o teatro em que a ambição foi o verdadeiro protagonista e as virtudes não mais que material de propaganda e pressão, cumpriu o seu objetivo e era preciso, urgente, conter os desdobramentos das ações judiciais em andamento, principalmente porque, seguidos à risca todos os ritos, haveria riscos de não haver possibilidade de quórum nas seções da Câmara ou do Senado.
Limpou-se a área e a Operação Lava Jato, no que tinha de legítimo, foi cuidadosamente desmontada. Como já foi lembrado aqui, um apartamento cheio de dinheiro, sem origem comprovada, deixou de ser prova bastante para acusar o parlamentar que pedira o tal apartamento emprestado a um amigo, sob alegação que nele guardaria documentos. Conversas de madrugada nos porões do Palácio Jaburu ou funcionário do Legislativo correndo e arrastando mala de dinheiro, tudo devidamente filmado, deixou de ter importância. E aqueles que diziam que corrupção era o maior de nossos problemas ficaram mudos, o mesmo acontecendo com os que prometiam o fim das maracutaias e do toma lá dá cá. Tudo pode se arranjar, tudo se acalma, principalmente quando eleições estão num horizonte próximo.
É o que será constatado por qualquer um que se der ao trabalho de apurar o que se passa nos bastidores da política em Brasília, dedicando especial atenção, conforme sugerido no início desse comentário, ao encaminhamento da tão falada reforma política.
Por mais absurdo que possa parecer, e de fato é, pelo menos três comissões da Câmara se dedicam ao tema, voltadas para temas como flexibilização da Lei das Inelegibilidades, alívio na Lei da Ficha Limpa e até, descaradamente, um freio que contenha ímpetos indesejados do Tribunal Superior Eleitoral. De quebra, apenas de quebra, a volta de financiamento empresarial de campanhas.
Pelo que se constata, andamos em círculo ou fizemos até pior, exibindo, sem limite ou qualquer espécie de pudor, o que o sistema político brasileiro tem de pior.
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