EDITORIAL | Sem espaço para sonhar

As incertezas do presente, pondo em risco o mundo inteiro, por mais graves que possam ser, não devem impedir que se procure enxergar à frente, antecipando transformações que ganham intensidade e velocidade. Mudanças que, essencialmente, virão do conhecimento e da tecnologia, mudando a natureza do trabalho, da produção, da maneira de viver numa escala sem precedentes. Conhecimento será a chave dessas transformações e dele dependerá o destino de cada nação e de cada indivíduo.
Há dois anos, ou pouco mais, quando a Boeing tentou comprar a Embraer foi dito, nos bastidores, que os norte-americanos estariam mais interessados nos engenheiros brasileiros que propriamente na empresa. Confirmando os rumores, a Boeing abre agora vagas especiais exatamente para engenheiros brasileiros, reputados como de primeira linha. Enquanto isso, no Brasil, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Comunicação e Tecnologias Digitais (Brasscom) informa que o País forma anualmente 53 mil profissionais nessa área, mas precisaria de 153 mil. Pior, o pessoal bem formado e valorizado está tomando o rumo dos aeroportos, à procura do reconhecimento que não tem aqui.
Nessas condições, enxergar um futuro que pareça melhor, em que ao Brasil não esteja reservada apenas a oferta de produtos de baixo valor agregado, não é nada fácil, sobretudo quando é colocada na mesa uma outra informação: o País deixou de investir, desde 2014, pelo menos R$ 99 bilhões em ciência e tecnologia, numa trajetória descendente de 7 anos. Com esta quantia teria sido possível manter 665 mil bolsistas de mestrado. Esta situação implica, além das perdas imediatas, prejuízos de longo prazo e em qualquer estratégia de desenvolvimento e geração de empregos, sobretudo qualificados.
São múltiplos e evidentes os sinais de que o País esta involuindo, empobrecendo, assim como parece claro que, além das limitações da gestão pública, em larga medida essa situação é consequência justamente da redução dos investimentos em educação, do nível básico ao mais elevado, conforme está sendo apontado, tudo isso dentro de um círculo vicioso em que os que vencem as barreiras de qualificação não rompem as do mercado de trabalho e assim vão bater às portas de instituições de pesquisa, universidades ou empresas no exterior. Perversamente mas compreensivelmente justamente os melhores.
Não há como imaginar, nessas condições, que o Brasil tenha condições de superar as dificuldades atuais, reassumir sua posição junto aos países emergentes e acreditar que possa ter um lugar reservado no mundo desenvolvido.
Ouça a rádio de Minas