EDITORIAL | Sem espaço para xerifes

Nos Estados Unidos, de alguma forma ficou estabelecido que o Partido Democrata congrega e representa os liberais, reservadas aos republicanos as cadeiras à direita. Sem espaço para considerações sobre o ex-presidente Donald Trump, que com boa dose de indulgência poderia ser apontado como um caso à parte, a política é colocada nesses termos no país que se apresenta como a maior potência do planeta. Curiosamente a trajetória dos dois partidos ao longo do tempo, bem registrada na história, conduz a constatação diferente, com os democratas na prática se revelando mais belicosos e agressivos.
Não tem sido diferente no governo do presidente Biden, que não se vexa de se apresentar, de falar e se comportar como se fosse o xerife do planeta, julgando o bem e o mal a partir de critérios um tanto seletivos. O caso que se apresenta nesses dias, expondo a ironia de dar o apelido de guerra fria ao conflito entre as grandes potências ilustra bem o que estamos dizendo. Biden e seus aliados compulsórios da Otan enxergaram nos entreveros entre Rússia e Ucrânia excelente oportunidade para avançar na direção do Leste Europeu, o que representa muito concretamente a possibilidade de desestabilização da ordem global.
Quem conhece e se aprofunda no tema diz que mais uma vez é um jogo de cena que ao fim e ao cabo não dará em nada, porque sabem muito bem que a Rússia não abrirá a guarda para vizinhos tão incômodos, do ponto de vista deles. E nada diferente, custa nada reafirmar, se a situação fosse outra, com adversários batendo às portas dos Estados Unidos e sem precisar lembrar os 60 anos de embargo a Cuba. Quebrar o arranjo atual, indo além das provocações de praxe, passou a ser uma aventura suicida, se declararam solidários, unidos e preparados para enfrentar a ameaça que se apresenta, não permitindo em nenhuma hipótese que o equilíbrio estabelecido seja rompido.
A resposta da semana passada foi contundente e enérgica e deve bastar para que os Estados Unidos e seus aliados tenham menos preocupações com a sorte dos ucranianos, tanto quanto não tem a mínima com relação aos sauditas, entre outros exemplos que poderiam ser lembrados. De tudo isso resta a certeza de que a política e o poder nos Estados Unidos são sustentados pelo medo de um inimigo potencial, sempre presente, sempre ameaçador, inclusive, ou sobretudo, para justificar os gastos na área da defesa. Seus estrategistas não se dão conta de que muita coisa mudou e que hoje não há como ignorar um ultimato firmado por Rússia e China.
Ouça a rádio de Minas