Opinião

EDITORIAL | Sem tempo a esperar

EDITORIAL | Sem tempo a esperar
Crédito: Marcello Casal Jr/ABr

O rescaldo da pandemia e, na sequência, a invasão da Ucrânia provocaram e provocarão sequelas no campo econômico cuja extensão é ainda imprevisível, com apostas até numa nova recessão global e desabastecimento, principalmente de alimentos. Resultado imediato, aumento de preços e da inflação, da qual hoje poucos países escapam e o Brasil está do lado oposto. Aqui a inflação acumulada em doze meses já alcança 11,7%, índice que, conforme acaba de revelar a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é o quarto entre as 20 maiores economias do planeta, perdendo apenas para Turquia, Argentina e Rússia.

Embora pelo segundo ano consecutivo o Banco Central informe que o teto da inflação será ultrapassado, em Brasília o mundo oficial insiste na tese de que não existem problemas estruturais e o que se passa é apenas repique da situação global. Tal visão, de certa forma, equivale a um reconhecimento de impotência, embora carregue também o já bem conhecido “não temos culpa”. E tudo isto sem um olhar também para os fatais desdobramentos do aumento de gastos, catapultados pelo período eleitoral, antecipando dificuldades maiores à frente. Justamente o que apontam economistas independentes, técnicos que estão distantes do viés político, para os quais os dois próximos anos – pelo menos – serão de turbulência.

Na mesma direção nos alerta, em palestra na Federação das Indústrias, o professor e economista Paulo Paiva, acrescentando que, no caso brasileiro, são recomendáveis políticas e projetos que gerem resultados rápidos e a custos baixos, num contexto de reorganização da economia, tendo em conta principalmente o que define como “enorme desequilíbrio fiscal”. Aponta também os riscos embutidos na inflação crescente e a questão política, que implica indagar como o País estará organizado a partir do ano que vem. Para ele, hoje as pessoas estão focadas na eleição presidencial, sem perceber que a votação parlamentar é tão ou mais importante.

Assusta perceber a distância que separa este tipo de ponderações, de alertas, do comportamento na órbita da política, que inclusive contamina e paralisa a gestão pública. Uma reação que necessariamente nos remete à importância do evento em que falou o ex-ministro Paulo Paiva, voltado justamente para a capacitação política e tendo como alvo principal lideranças empresariais. Entender melhor o futuro e assim poder antecipar – para neutralizar – riscos é tarefa impositiva que, sugerem as circunstâncias, necessariamente terá que partir da mobilização de lideranças não engajadas na política partidária, convencional e, infelizmente, um tanto deteriorada.

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