EDITORIAL | Sem tempo para adiar

Enfrentar os desafios que aguardam o novo governo será tarefa das mais difíceis e não será surpresa que seja constatada, ainda no período de transição, a existência de mais uma “herança maldita” assombrando a nova equipe que assume em janeiro. A ideia de recuperação, tão apregoada pelo ministro Paulo Guedes, não para de pé e para isso basta verificar a base de comparação e, olhando para frente, o tamanho do déficit público, grande o suficiente para anular manobras voltadas para a recuperação dos negócios, dos empregos, consumo e produção.
É fundamental que exista compreensão da realidade, menos para exacerbar rivalidades e mais para que as metas estabelecidas desde agora sejam realistas, partindo do entendimento – na realidade não há outro – de que a corda foi esticada além do limite. O futuro presidente da República, cujos auxiliares mais próximos no momento estão empenhados numa engenharia política que garanta recursos para a manutenção do auxílio emergencial, absolutamente não está errado quando declara que sua primeira preocupação é assegurar que os mais pobres, os famintos na realidade, saiam o quanto antes dessa condição. É o que tem que ser feito e tudo o mais pode esperar até que a casa esteja arrumada, sem espaço inclusive para agrados que no Brasil ainda são inerentes à atividade política.
Quem examinar o Orçamento proposto para o próximo exercício e se detiver nos cortes já ordenados em áreas que são igualmente críticas não terá como deixar de entender o que se pretende demonstrar neste comentário. Para entender, inclusive, que a revisão já solicitada ou medidas como ampliação do teto de gastos contemplam a sobrevivência, não mais. São questões objetivas e que demandam também hábil construção política, da convergência possível e neutralização daqueles que, mesmo falando de patriotismo, farão tudo para atrapalhar não apenas a coligação partidária vitoriosa mas a todos quanto, de verdade, colocam o Brasil em primeiro lugar.
Destes se espera que ponham de lado referências, de momento absolutamente impertinentes, à criação de novos ministérios e, muito ao contrário, estejam prontos para cortar gastos, para devolver a máquina pública ao tamanho que o Estado possa suportar e, mais, gerar excedentes para a retomada de investimentos que são críticos, além de base para os passos à frente que poderão vir na sequência. É rematado despropósito pensar que possa ser diferente ou acreditar que a tarefa de cortar na própria carne, monotonamente repetida ao longo do tempo, poderá sendo adiada indefinidamente.
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