EDITORIAL | Sem tempo para esperar
Numa semana em que as preocupações se dividiram, no Brasil e em boa parte do planeta, entre o recrudescimento da pandemia com números de infecções e fatalidades comparáveis aos piores momentos do primeiro semestre do ano e o início, na Inglaterra, do processo de imunização em que repousam as melhores esperanças de superação das dificuldades atuais, em nosso País persistem incertezas relevantes.
A evidente e, ao mesmo tempo, absurda politização da questão teve com consequência mais imediata o atraso em providências essenciais, desde a encomenda de vacinas e demais insumos necessários. Tudo isso leva a crer, e numa hipótese talvez otimista, que a vacinação não ganhará escala antes do mês de março do próximo ano, enquanto o número de mortes certamente ultrapassará a casa das 200 mil, com riscos objetivos de colapso do sistema de atendimento médico, algo tido como inevitável caso as festividades de Natal e Ano Novo não sejam contidas, assegurado o isolamento social em proporções mais severas do que se viu até agora.
Em resumo, a julgar pelos relatos científicos e depoimentos vindos da área médica, a corrida contra o tempo não parece estar sendo considerada como deveria, nas áreas em que as decisões deveriam estar sendo tomadas. Tudo isso como se fosse pouco relevante o registro de que os casos diários de fatalidades voltam a se aproximar da casa dos mil.
Com certeza uma realidade muitíssimo diferente daquela recentemente descrita pelo presidente Jair Bolsonaro, que embora pela primeira vez tenha dito que o País está diante de um grave problema, disse também considerar que tem se saído muito bem, entre os mais bem sucedidos em todo o mundo.
Talvez exatamente por colocar a questão nessa perspectiva, desafiando ou simplesmente ignorando todas as evidências em contrário, é que decisões cruciais são postergadas, enquanto o presidente da República perde seu tempo para viagem a São Paulo com o objetivo declarado de inaugurar um relógio reformado, instalado na central de abastecimento da capital do Estado.
Novamente uma atitude política com endereço certo e conhecido, enquanto os verdadeiros problemas ficam de lado, como o correto enfrentamento da pandemia e a vacinação ou as reformas que necessariamente terão que preceder a retomada da economia, que continuam sendo postergadas, agora prometidas para depois da reabertura dos trabalhos legislativos no próximo ano.
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