EDITORIAL | Sem tempo para perder

Se alguém se der ao trabalho de fazer contas, certamente levará um grande susto. Considerado o tamanho do déficit do sistema previdenciário, cada dia que passa sem que o capítulo final dessa novela seja escrito, são mais perdas que o País, o contribuinte e o pensionista acumulam, tudo isso tratado como se, de fato, não tivesse muita importância.
A recente votação favorável na Câmara dos Deputados, com uma margem inesperadamente folgada, significou alívio, a ponto de se dar por vencida a batalha, já que todos, ou quase todos, acreditam que o aval do Senado, que já poderia ter acontecido mas ficou para o próximo mês, é tido como mais fácil.
O problema é que o País não tem dinheiro e não tem tempo para perder, sobretudo porque a recuperação que se esperava não aconteceu e, ao contrário, estamos todos no limiar da recessão. Um contexto em que fica bem mais difícil vender a tese de que a reforma da Previdência seria uma espécie de vacina milagrosa para todos os nossos males. Não, enquanto não houver uma mudança de atitude, enquanto as finanças públicas não forem, de fato, tratadas com mais respeito e profissionalismo, com o mérito de fato prevalecendo sobre a conveniência.
O governo que tomou posse em janeiro se dizia, ao mesmo tempo, a negação de todos os males do passado e se apresentava como a nova política, que teria como uma de suas características mais fortes a valorização do mérito e o banimento, ao que se esperava, de procedimentos nada republicanos. Desnecessário apontar os sinais de que isto não aconteceu ou, pior, apontar que maus hábitos, como os jatinhos que decolam desnecessariamente para transportar excelências, continuam voando, as frotas de carros oficiais renovadas nos melhores padrões e parece não existir força capaz de impor a disciplina prometida e não haveria espaço para helicópteros militares decolarem tendo a bordo passageiros absolutamente desabilitados para estes périplos.
O presidente da República já disse, e mais de uma fez, que o País não tem dinheiro para atender mesmo a emergências e seu ministro da Economia acrescenta que caminhamos sobre o fio da navalha. Pelo que dizem as principais autoridades, pelo que se constata com facilidade, não dá para esperar, tampouco para acreditar que somente os cortes previstos no sistema previdenciário produzirão o milagre do reequilíbrio financeiro. Está claro, claríssimo, que será preciso fazer muito mais. Na realidade, mudar de atitude, deixar de se comportar como se o dinheiro público fosse uma caixa sem fundos e sem dono.
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