EDITORIAL | Sentar e conversar

Na reta final para a posse, imagina-se que os integrantes do grupo de transição, mesmo que não tenham encontrado interlocutores colaborativos, já fizeram chegar ao futuro presidente da República sua avaliação do quadro que encontrará. Dia 2 de janeiro. Pelo que já veio à tona, pelos remendos orçamentários e legislativos de última hora, a administração pública federal se manterá de pé, o Bolsa Família, encorpado, socorrerá os mais necessitados, mas, numa visão mais abrangente, faltará de tudo em todo canto, da merenda escolar para as crianças mais humildes ao básico, material, equipamentos e bolsas, para as pesquisas avançadas. Tudo isso e mais um ambiente político que se divide entre a hostilidade e explícita conveniência, compõem um quadro que, como já foi dito neste espaço, parece não estar sendo bem percebido.
Trata-se de fazer diferente, de desbravar caminhos para construir alternativas, tendo como certo que a meta final é reencontrar o bem comum, devolvendo ao Brasil a possibilidade, ou a chance, da recuperação a partir do melhor aproveitamento de todas as suas potencialidades. Nada que seja utópico, ainda que as forças contrárias, presentes ao longo do tempo, até aqui tenham se mostrado mais eficazes. Dentre tantos outros pontos a serem reexaminados e reavaliados, na procura de alternativas melhores, em primeiro lugar aparece com absoluta certeza a dívida pública. Somente para pagar o serviço dessa conta, que não para de crescer, o País consome, de longe, a maior parcela de toda a renda nacional, o que por suposto deveria bastar para que o assunto estivesse no centro das atenções.
Não se imagina qualquer burla, qualquer desvio ou qualquer impropriedade. Estamos falando em primeiro lugar de conhecer e entender o problema e, uma vez definido o quadro, buscar alternativas, tudo isso com muita responsabilidade e seriedade, sem que seja dada margem para eventuais chiliques do “mercado”. Justo o oposto. Estamos falando como agiria qualquer devedor sério, enxergando suas dificuldades e entendendo que a partir de certo ponto elas passam a ser divididas, queiram ou não, também com os credores. Nada que seja novidade para a banca. O que deveria causar espanto, máximo espanto, é que em nenhum momento esse tipo de abordagem tenha sido, aparentemente, pelo menos cogitado.
Aliviar esta conta, tudo dentro de padrões absolutamente usuais e reconhecidos, poderia fazer toda a diferença, devolvendo ao País o fôlego que está se exaurindo e ao mesmo tempo possibilitando acesso a recursos que permitam atacar as emergências que se apresentam.
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