Opinião

EDITORIAL | Sentido das reverências

EDITORIAL | Sentido das reverências
Crédito: Freepik

Hoje é feriado nacional, comemorativo da Inconfidência Mineira e homenagem àquele que passou à história como seu mártir e líder. O Tiradentes, militar de ofício e dos conjurados o único que pagou com a vida sua rebeldia, imaginava um Brasil diferente e melhor. Em primeiro lugar, independente e livre do jugo lusitano; segundo, democrático, capaz de potencializar suas riquezas naturais e assim construir uma nação próspera, capaz de atender com justiça e equilíbrio a todos os seus.

O movimento, que já àquela altura tinha como impulsionador a cobrança de impostos – uma quinta parte do valor arrecadado pelo contribuinte, no caso exploradores do ouro das Minas Gerais – e a perspectiva de uma “derrama” como era apropriadamente denominada a cobrança de tributos atrasados.

Àquela altura a produção aurífera já em declínio, principalmente por conta dos métodos extrativos primários e realizados à superfície, empobrecia a província e seus habitantes, que reclamavam das exigências, enquanto os representantes da coroa portuguesa preferiam acreditar que na realidade a sonegação é que prosperava. Sob diversos aspectos, são pontos em comum com uma realidade ainda presente, mesmo que tenha mudado nas aparências ou na forma. Reverenciar, como se faz neste dia, os heróis inconformados é apropriado, mas homenageá-los seria, por inteiro, refletir sobre seus propósitos e ideais. Sobre o que reclamaram, sobre o que cobravam e que não aconteceu.

Reclamava-se da cobrança pelos colonizadores do quinto, considerada excessiva, percentual até modesto a considerar que na atualidade a tributação alcança a média de 35% sobre tudo que é produzido. Cobrava-se mais igualdade e não foi o que aconteceu, assim como o conceito de independência, que se sustenta na autonomia e na produção própria, sustentada pelas riquezas locais, também não se deu plenamente, verdadeiramente, prevalecendo uma colonização disfarçada, que se materializa não mais pela ocupação territorial e sim pela dominação econômica, enquanto são mantidas outras formas de escravidão e desigualdade.

Sendo de todo impossível deixar de enxergar a realidade de um empobrecimento que as estatísticas apontam e bem visível no aumento da população sem teto ou do trabalho informal, se não na própria fome, nos parece de todo apropriado reclamar que as comemorações de hoje não sejam restritas à repetição de velhos rituais, denotando falsa admiração e falso reconhecimento, enquanto os mesmo erros se repetem e se acumulam.

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