EDITORIAL | Será que agora vai

Chega a ser enfadonho recuar no tempo para tentar relatar e recordar as tentativas de implantação de um sistema de transporte de massa sobre trilhos em Belo Horizonte. O fato é que o metrô continua resumido a uma única linha, de pouca serventia e capacidade, longe de poder responder à demanda ou guardar semelhança com promessas várias vezes repetidas e, se tivessem sido cumpridas, colocariam a cidade e a região metropolitana num outro patamar no que toca à mobilidade. Não faltaram promessas, não faltaram projetos, protocolos e até visitas presidenciais para chancelar a empreitada – que mereceu até sondagens de solo na avenida Afonso Pena! – mas, sabemos todos, não saiu do lugar.
Apenas para ilustrar, houvesse algum ponto de encontro entre o prometido e o realizado, linhas ligando o bairro Calafate à região dos hospitais, com derivação para o hipercentro e dali às proximidades do Mineirão. Tudo pronto e entregue a tempo de responder à demanda gerada pela Copa do Mundo de Futebol de 2014. E, com alguma dose de otimismo, com prolongamento da linha, que a estas alturas também já estaria pronta, seguindo na direção da Cidade Administrativa para, quem sabe, um dia alcançar o Aeroporto de Confins.
Nada aconteceu e nem mesmo das sondagens na avenida Afonso Pena, com placas e tudo o mais, nada se sabe. Na semana atrasada o silêncio voltou a ser quebrado, agora por conta do presidente Bolsonaro, que veio a Belo Horizonte para, ao lado do governador Zema, anunciar que os trilhos do metrô finalmente serão encompridados. E com uma fórmula diferente, partindo da privatização do metrô local, operado pela CBTU, operação que custará mais de R$ 3 bilhões, seguindo-se o regime de concessão. Zema, que entrará com pouco mais de R$ 400 milhões nessa construção, afirma que muitos problemas foram destravados, dá a entender que ainda existem pedras no caminho, mas espera que o edital de concessão possa ser aberto em março do próximo ano.
Falta saber se, como indagou o jogador de futebol Garrincha, depois de uma conversa com o técnico Vicente Feola, se a tática que ele imaginava para um jogo com a seleção da Rússia já havia sido combinada com os russos. A analogia é com investidores, brasileiros ou estrangeiros, que serão chamados a bancar os planos apresentados pelo presidente da República e pelo governador do Estado. Tomara que sim, é claro, mas a prudência mineira, ou a lembrança de que gato escaldado tem medo de água fria, nos obriga a recordar que o Brasil, por conta de seus problemas políticos, de gestão pública e de economia, atualmente é visto, com alguma gentileza, de banda. Em resumo, um problemão a mais para o metrô de Belo Horizonte.
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