Opinião

EDITORIAL | Show de horrores

EDITORIAL | Show de horrores
Crédito: Morry Gash/Pool via REUTERS

Não será exagerado definir como um show de horrores o primeiro debate da campanha presidencial nos Estados Unidos, realizado na noite da última terça-feira. E sem nenhuma surpresa, já que era o prometido, tendo em conta o estilo bem conhecido do candidato à reeleição. Sem ter como esclarecer questões pessoais, como a recente comprovação de que, apesar de se dizer bilionário, passou mais de dez anos sem pagar imposto de renda, alegando prejuízos nos negócios, Trump também nada disse sobre a situação de seu país com relação à pandemia. Resumindo, aproveitou seu tempo para acusar o adversário, em que disse enxergar alguém capaz de levar seu país ao socialismo.

A Joe Biden, o candidato democrata, contido num visível esforço para não reagir destemperadamente aos ataques de que foi alvo, pouco ou nenhum tempo sobrou para apresentar, com o necessário nexo, suas propostas. Afinal, e contrariando as regras que previamente aceitara, Trump o interrompeu mais de cem vezes, transformando o debate num encontro caótico e sem propostas. Pode ter sido, e certamente foi, o pior dos debates já realizados, na verdade parte de um show midiático engessado por regras e limitações que em termos práticos anulam a possibilidade de um debate verdadeiro, naquele que poderia ser o palco ideal para propostas e argumentação e, assim, momento da maior relevância para as eleições e para a própria democracia.

Terça-feira passada pode ter sido, e foi, pior, mas o espetáculo em si mesmo explicita sua falsidade, num fenômeno que é anterior, tendo começado com o presidente John Kennedy na campanha de 1960, quando pela primeira vez a televisão teve protagonismo e as campanhas passaram a ser conduzidas pelo marketing e pela propaganda, que por sua vez tinham e tem como único balizador as pesquisas de opinião. Falta o entendimento elementar de que vender um político, ainda mais um presidente da República, com as mesmas técnicas e com os mesmos métodos utilizados para vender sabonetes, tende a não dar certo. Mundo afora, e não apenas no país que se autoapresenta como berço da democracia moderna, sobram evidências que comprovam a tese. Até para os que tenham se poupado de assistir o triste espetáculo da terça-feira.

Cabe esperar, no entanto, que de alguma forma tenha sido um alerta, uma maneira de chamar atenção para o vazio que tomou conta do espaço político, ocupado e manipulado também pelas redes sociais, onde robôs espalham mentiras, fazendo muito mais que destruir reputações ou a verdade e sim pondo cada vez mais em risco o voto, a escolha de cada cidadão e a própria democracia.

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