Opinião

EDITORIAL | Só nos falta a vontade

EDITORIAL | Só nos falta a vontade
Reunião do G20 em Bali | Crédito: REUTERS/Willy Kurniawan

A semana que está terminando, mais especificamente a quinta-feira (15), foi marcada por um fato excepcional. Naquele dia a população do planeta chegou a 8 bilhões de indivíduos, evento que antes de tudo deve ser tomado como alerta, principalmente diante da constatação de que 3 bilhões de pessoas vivem sem acesso a serviços básicos, água tratada e esgotamento sanitário e pelo menos 800 milhões, ou 10% do total, em condições de pobreza extrema. Dizem os estudiosos que o dilema diante desses números não é a falta de recursos e sim sua má distribuição. O que falta para muitos sobra para bem poucos, deveria bastar para todos.

Na mesma quinta-feira foi aberta, em Bali, na Indonésia, a reunião anual dos 20 países mais ricos do planeta, a maioria representada pelos seus respectivos chefes de estado. No mesmo dia o serviço secreto dos Estados Unidos anunciou que mísseis russos caíram em território polonês, versão confirmada pela Ucrânia e apontada pela Rússia como apenas mais uma provocação. Versões que não bastaram para a convocação de reunião de emergência a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. É de se imaginar que apenas os gastos decorrentes do conflito no Leste europeu, que em menos de um ano já soma centenas de bilhões de dólares, bastariam para dar fim à pobreza extrema no planeta. O assunto não parece ter chegado à pauta da reunião de cúpula de dois dias.

Ainda na semana de tantos e tão importantes acontecimentos, dignatários planetários encontraram tempo também para, agora no Egito, participar da Conferência Mundial do Clima, a COP 27. Como de costume, sinais de preocupação e de alerta não faltaram, acompanhados de relatos sobre o aquecimento global e suas consequências. Convergência no que toca à preocupação, que em alguma medida já se confunde com medo, e divergência com relação, afinal, a quem caberá a conta pela correção dos desequilíbrios apontados.

Num encontro em que a presença, por dois dias, do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi um dos momentos altos, parece ter prevalecido a ideia de que os principais poluidores, países mais ricos e industrializados, deverão ser também os financiadores do processo de regeneração, por exemplo, na Amazônia, cuja floresta pode contribuir muito nessa empreitada. Em cada um dos tópicos apontados nesse breve comentário, não há como deixar de perceber a convergência, ainda que por enquanto apenas no plano teórico.

Mais ainda, o entendimento de que não nos faltam recursos, capacidade ou inteligência para enfrentar os desafios apontados. Falta apenas vontade sincera de devolver racionalidade ao planeta que por enquanto nos abriga.

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