EDITORIAL | Só para inglês ver

A revolução industrial, a partir do século XVIII, foi o marco inicial das transformações que deram ao planeta sua conformação atual. A partir da Inglaterra e em grande parte financiada pelo ouro que, vindo do Brasil, passava por Portugal e acabava em mãos britânicas, essas mudanças tiveram como primeiro efeito o entendimento de que a escravidão, até então aceita e estimulada, entendida como algo natural e aceitável, deixava de ser conveniente. Surgiram assim pudores tão inesperados quanto falsos e a Inglaterra tomou a si a tarefa de policiar o mundo, muito mais por interesses que propriamente por virtudes.
Nem por um momento estamos defendendo o que se passava, mas sim condenando a hipocrisia, tudo isso para lembrar que o Brasil durante muito tempo – e mais uma vez é preciso ficar bem claro que não vai ainda nenhuma defesa – tentou driblar os ingleses, adotando medidas que pareciam ser alinhadas com as novas políticas, mas que não passava de um jogo de aparências.
Como se dizia à época, tudo era apenas “para inglês ver”, expressão que até hoje é tomada como sinônimo de fingimento e nos corre agora a propósito das medidas que estão sendo estudadas, algumas delas já adotadas, tendo como objetivo controlar as ditas redes sociais – que de sociais tem cada vez menos –, evitando seu uso indevido e, sobretudo, que sejam replicadas informações mentirosas, algo que começa atingir uma escala que já afeta a sociedade e pode comprometer modelos políticos mais saudáveis.
Esta é uma daquelas situações curiosas em que todo mundo é contra, pede que as fake news sejam combatidas com rigor máximo, desde, é claro, que sejam a mentiras dos outros. Seria simples, até fácil, acabar com os abusos anotados, apagar a farsa de que controles ameaçariam a liberdade de expressão, desde que houvesse disposição de atingir, ainda que apenas em parte, os interesses bilionários das empresas, duas ou três, donas desse monopólio.
A tecnologia que foi imaginada para o bem e que, na verdade, produz estragos cada vez maiores, é a mesma, mesmíssima, que permitiria fazer a necessária depuração. Enquanto isso não acontece, os movimentos são todos apenas “para inglês ver”.
Ouça a rádio de Minas