Opinião

EDITORIAL | Temperatura em elevação

EDITORIAL | Temperatura em elevação
Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

Passado o 7 de setembro, a sensação, certamente para a maioria dos brasileiros, foi de alívio. As fartas insinuações de que a data poderia representar alguma tentativa de ruptura institucional não se confirmaram, mesmo que não tenham sido poucos os abusos daqueles que ajudaram a transformar os festejos dos 200 anos da Independência em palanque para atos de cunho político. Mesmo que alguns insistam em atribuir às manifestações volume e relevância que não tiveram, como em Brasília onde chegaram a apontar a presença de mais de um milhão de pessoas na Esplanada dos Ministérios, número pelo menos dez vezes maior que o real, ainda assim círculos mais próximos a Jair Bolsonaro prosseguem nas tentativas de intimidar e confundir.

Chegaram ao extremo de propagar que o apoio que imaginam e alegam ter recebido é algo equivalente à antecipação de vitória na eleição de outubro, ao mesmo tempo que reforçaria a “farsa” das pesquisas de opinião, que seriam mentirosas e enganosas. A questão, no mesmo momento em que analistas independentes afirmam que a soma de votos válidos estaria bem próxima de garantir que a eleição seja decidida ainda no primeiro turno, passaria a se bater ainda mais na tecla de que as urnas eletrônicas não são confiáveis e, portanto, o resultado apontado não pode ser aceito. Pretexto, na melhor das hipóteses, para justificar a derrota e, na pior, para sua contestação fora das tais “quatro linhas” da Constituição que o presidente candidato à reeleição tanto gosta de mencionar.

Estas, se bem traçadas e devidamente respeitadas, conteriam elementos suficientes para contestação das manifestações comentadas, em que solenidade que deveria ser de Estado, de comemorações de todos os brasileiros foi apropriada e conspurcada. É de todo desnecessário repetir quando e como isso aconteceu ou lembrar que as despesas decorrentes deveriam ser devidamente auditadas, sendo claro que igualmente a legislação eleitoral foi ferida clara e deliberadamente. Ações mais contundentes, em resposta, teriam sido desconsideradas sob pretexto de não acirrar ainda mais os ânimos.

Não certamente por acaso, tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) voltam a ser atacados, na oportuna e conveniente tentativa de desacreditá-los. Trata-se de procurar fazer crer que eles sim representam o desvio indesejado, como se fossem de sua lavra abusos diante dos quais a temperatura vai aumentando, perigosamente próxima do ponto de ebulição.

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